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Críticas

Cineplayers

Dicotomias e vingança.

8,5

Na sequência que encerra A Cidade é uma Só? (2011),  Dildu "enfrenta" a carreata de Dilma Rouseff e segue sua campanha cantarolando. Trata-se de um exemplo significativo sobre o cinema feito por Adirley Queirós, rico em dualidades na relação do homem e o espaço e o prosaico como gesto político.
Branco Sai, Preto Fica, um filme de desejos e fantasmas, se propõe abraçar o tempo e o cinema. Passado, presente e futuro vão de encontro às formalidades de gênero e ultrapassam todo tipo de fronteira estipulada por teóricos e cinéfilos. A jornada, considerando o caminho feito outrora em A Cidade é uma Só?, nos levará a repetir a questão principal do filme anterior, passando novamente pelos terrenos por onde Dildu caminhou ecoando seu jingle eleitoral.

A cidade planejada é a protagonista de uma nostalgia aguda, da época dos bailes de black music no Quarentão, local de uma mudança drástica na vida de Marquim e Schokito. Esse desejo agudo de retorno no tempo permeia o filme pois o presente inibe uma relação direta dos personagens com Brasília e entre eles também. Fazer parte do tempo, do agora, é tarefa árdua, pois este direito lhes foi tomado. Este pensamento é justificado e elevado por Adirley Queirós através da ficção científica, onde se imagina - um ato de extrema melancolia que também permeia o longa - e sugere o futuro, sempre em busca de respostas e saídas.

Destes contrapontos entre ficção e real - que nunca se darão no realce dos cortes - surgem na mesma intensidade a solidão e a amizade. Ambas servem de suporte para momentos de força - principalmente na amizade de Marquim com seu toca-discos em função de sua rádio pirata e de Schokito com suas ferramentas. É a forma que acharam para seguir em frente. O gênero, no caso, pode ser uma barreira para colocar a câmera como dispositivo investigativo das motivações dos personagens e o narrador como a dinamite para colocar abaixo este muro.

Esta é uma das diversas dicotomias apresentadas pelo filme, que se apoia na melancolia mas que é composto com bom humor, com sequências de simbolismos referentes ao movimento (imagem, cidade, os homens e suas limitações físicas), personagens iconoclastas e canções emblemáticas que reforçam a noção de um abismo social. O muro implodido servirá como pano perfeito para uma invasão e acerto de contas através da relação indireta com o tempo e suas limitações (literais ou não) e a percepção abstrata do legado que toda atitude será política e que elas reverberarão pelo tempo, pelos toca-discos, pela tela e pelas ruas.

Comentários (1)

Diogo Serafim | sexta-feira, 07 de Novembro de 2014 - 18:40

bela crítica pra um dos melhores filmes do ano. adirley é uma das maiores promessas do cinema nacional!

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