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Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América

(Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan, 2006)
7,4
Média
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Piadas incessantes, uma atrás da outra, marcam uma das melhores comédias dos últimos anos.

9,0

O politicamente correto é uma praga que assola a sociedade. Hoje, atitudes levemente fora dos padrões ou até um simples palavrão são tomadas como ofensivas. Há pouco tempo, só para dar um exemplo, o último trabalho do escritor Gabriel García Márquez, Memórias de Minhas Putas Tristes, causou polêmica por algumas livrarias se recusarem a vender uma obra com a menção explícita às mulheres da vida.

Este excesso de conservadorismo se estende aos mais diferentes segmentos, inclusive o cinema. Com exceção de Trey Parker e Matt Stone, os desbocados criadores de South Park e Team America, e outros raros corajosos que ousam liberar-se das amarras do puritanismo, o mundo da sétima arte tem se tornado um coelhinho saltitante em um campo florido (só pra citar a brincadeira feita no trailer do filme de Os Simpsons, cutucando exatamente este assunto). Isso, claro, até surgir Sacha Baron Cohen e Borat – O Segundo Repórter Mais Famoso do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América.

Baseado em um personagem do próprio Cohen em seu programa de TV, Borat conta a história de Borat Sagdiyev, um repórter bastante conhecido em sua terra natal, o Cazaquistão. Com o objetivo de aprender sobre a cultura norte-americana para que seu país evolua, Borat é enviado aos EUA. Chegando lá, enquanto aprende sobre o novo país, o repórter se apaixona por Pamela Anderson e inicia uma viagem até à Califórnia em busca da amada.

Genial desde sua campanha de marketing (Sacha Baron Cohen fez todas as entrevistas de divulgação do filme caracterizado como o personagem), Borat é um filme como há muito não se via. Além de absurdamente engraçada, a produção esquece todo e qualquer limite do bom senso, entregando um humor subversivo – até escatológico – e ácido ao extremo. Sim, como se não bastasse trazer problemas ao maxilar dos espectadores por causa das risadas, Borat ainda encontra espaço para criticar de maneira magistral a sociedade americana, escancarando suas feridas.

Construído na forma de mockumentary (ou seja, um falso documentário aos moldes de Zelig e Isto é Spinal Tap), Borat mistura ficção e realidade com resultados praticamente perfeitos. O grande trunfo do filme é o fato de Cohen abordar pessoas que realmente acreditam estar falando com um repórter estrangeiro. Assim, o ator utiliza sua incrível capacidade de improviso para arrancar as reações mais apavoradas – e engraçadas – das pessoas diante das excentricidades de Borat.

Sem perder o ritmo, as piadas e situações concebidas por Cohen vão surgindo de maneira quase incessante. Brilhante nas gags físicas, nos diálogos e no timing cômico, Cohen praticamente hipnotiza o espectador, que anseia pela próxima loucura de Borat. Dessa forma, e com praticamente todas as piadas dando certo, Borat não se torna cansativo em momento algum. Pelo contrário, quando o filme acaba, a vontade é de entrar no Youtube e procurar pelas maluquices do personagem em seu programa de TV.

Diversas cenas do filme já nascem antológicas, dignas de entrar para o qualquer lista de momentos mais engraçados do cinema. A mais óbvia é, sem sombra de dúvidas, a briga de Borat com seu produtor. Não vou falar mais para não estragar a surpresa, mas não me recordo de jamais ter dado tanta risada no cinema. Cenas como o jantar com os ricaços, o quarto/elevador e a galinha no metrô são outros exemplos de momentos hilários em Borat.

Se a estrutura narrativa da obra oferece cenas de rachar o bico de rir, ela também dá ensejo a críticas à sociedade americana. As “vítimas” de Borat, por acreditarem falar com um repórter estrangeiro, despem-se de qualquer pudor, revelando opiniões preconceituosas e xenofobistas, para dizer pouco. O brilhantismo de Sacha Baron Cohen, portanto, não resume-se apenas ao seu incrível talento cômico; com inteligência e precisão, ele faz com que os próprios americanos exibam as feridas e os podres de sua sociedade (como nas conversas com os estudantes no trailer e com o organizador do rodeio, por exemplo), em temas como racismo, política, feminismo, religião e outros.

E é desalentador perceber que Cohen sabia o que iria conseguir tais revelações em suas entrevistas. É como se todos os americanos soubessem que essa mesquinhez de pensamento está arraigada bem fundo na mentalidade daquele país, ainda que não de forma aberta. A genialidade – e coragem – de Cohen/Borat foi escancará-la a todo o mundo.

Aliás, outra seqüência digna de aplausos é aquela na qual Borat canta o hino do Cazaquistão em um rodeio. Seu discurso “apoiando” a política externa de Bush Jr. é sensacional. A princípio, a platéia aplaude. Apenas depois de algum tempo começam a perceber que aquela figura estranha com o microfone na mão está tirando sarro deles. Borat recebe uma vaia gigantesca, mas Cohen cria um momento inesquecível (sem contar, claro, a letra do próprio hino, dizendo que todos os países, exceto o Cazaquistão, “são governados por mariquinhas”).

Com louvável coragem e admirável cara-de-pau (o que ele faz com Pamela Anderson é quase inacreditável), Sacha Baron Cohen criou uma das maiores surpresas dos últimos anos no cinema americano. Politicamente incorretíssimo, o imenso sucesso de Borat ainda comprova que o público está cansado de moralismo idiota. Borat é, simplesmente, o trabalho de um gênio da comédia, um filme capaz de fazer rir como poucos sem deixar o cérebro de lado. Simplesmente imperdível.

Wa wa wee wa!

Comentários (1)

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