Robert De Niro comprova real capacidade como diretor - ele é tão interessante nesse posto quanto é como ator.
Catorze anos depois do lançamento de seu primeiro filme como diretor, Desafio no Bronx, Robert De Niro comprova ser, além de ótimo ator, um grande diretor. Em O Bom Pastor ele conta com a ajuda do bom roteiro escrito por Eric Roth, responsável pelos roteiros de Munique e Forrest Gump.
O longa conta a criação da CIA, a agência de inteligência norte-americana. Edward Wilson (Matt Damon) estuda na Universidade de Yale e, devido a seus valores, passa a integrar a sociedade secreta Skull and Bones. Edward destaca-se pela sua sabedoria e é convidado a trabalhar para a recém criada agência de inteligência dos Estados Unidos, no departamento de contra-inteligência. Logo no início, Edward recebe uma correspondência com uma foto e uma fita de áudio, em que um rapaz e uma moça conversam em um quarto. O material é enviado para perícia técnica. Enquanto esperamos para descobrir o que está por trás das gravações, o filme nos apresenta a vida de Edward desde sua juventude e os conflitos das inteligências secretas russa e americana durante a Guerra Fria.
O Bom Pastor é um filme longo, aproximadamente duas horas e quarenta minutos de duração. Entretanto, o roteiro bem amarrado e a direção de De Niro não deixam a longa duração atrapalhar o filme, e o espectador não fica com a impressão de que a produção está demorando a passar. O longa é cheio de flashbacks, que vão intercalando passado e presente da vida de Edward. A edição realizada por Tariq Anwar é perfeita, não deixando o espectador perdido com as idas e vindas no tempo. Por ter uma história cheia de mistérios, O Bom Pastor requer de seu espectador atenção máxima para não se perder em meio aos ótimos – e sempre presentes – diálogos.
O excelente roteiro de Eric Roth é imprevisível. Ele não antecipa pistas a seu espectador, conseguindo segurar a audiência até o final da projeção, com uma história realmente interessante. Um trabalho que poderia ter sido mais reconhecido pelos prêmios. Só a direção de arte, de Robert Guerra, foi lembrada com uma indicação ao Oscar. Porém, O Bom Pastor é impecável em outros aspectos como, por exemplo, fotografia e trilha sonora a qual ajuda muito no clima de suspense do filme.
O trabalho de Robert De Niro, principalmente com os atores, é elogiável. São grandes atuações de personagens marcantes, e Matt Damon, com perfeição, dá vida a um Edward melancólico e triste. É difícil ver Damon sorrir no filme, suas feições são sempre fechadas, expondo com perfeição a introspecção e a personalidade de Edward. Um homem capaz de abrir mão de sua felicidade e de uma vida comum ao lado de esposa e filho, para ser um profissional exemplar, que está disposto, acima de tudo, a servir seu país.
A crítica à sociedade norte-americana está presente. De Niro deixa clara sua reprovação à maneira como os Estados Unidos mantêm sua supremacia, por meio da chamada “política do medo”. Para justificar seus atos, como o recente episódio de escutas telefônicas ilegais por parte do governo, os Estados Unidos justificam que tudo está sendo feito para a segurança de seus cidadãos.
O Bom Pastor tem um grande problema: não consegue envelhecer seus personagens. Matt Damon, por exemplo, tem o mesmo rosto aos dezoito anos e após os cinqüenta. Parece que nada mudou, nem mesmo seu cabelo, no transcorrer de tanto anos. E o problema se repete com outros personagens. Angelina Jolie, intérprete da esposa de Edward, tem sempre a mesma cara de menina.
Durante a projeção, não há tempo para o espectador digerir o que está vendo, não há chance de reflexão. Do começo ao fim, o filme é um bombardeio de diálogos e acontecimentos. O momento para pensar no que se vê na tela, e até para compreender melhor a história, é após o término do longa. Ou seja, O Bom Pastor não termina na sala de cinema. Rever o filme, provavelmente, deve ser uma experiência tão interessante quanto vê-lo pela primeira vez.
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