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Críticas

Cineplayers

Um Bom Ano é o primeiro erro de Ridley Scott.

4,0

Ridley Scott é um dos diretores mais experientes e bem-sucedidos do cinema atual de língua inglesa, cujo trabalho se caracteriza pela ausência de bolas fora. Entre obras-primas (Alien, Blade Runner e Thelma & Louise), filmes interessantes com alta qualidade (Os Duelistas, Gladiador) e produções apenas boas e competentes (Falcão Negro em Perigo, Hannibal), não havia nada do que se queixar. Até mesmo o criticado G. I. Jane tem seus méritos e não pode ser considerado um erro.

A lista de Ridley Scott tem ainda, entre tantas produções consideradas sérias, dois momentos em que diretor resolveu relaxar e fazer algo mais leve. O primeiro funcionou: Os Vigaristas. O segundo, não. 

Um Bom Ano é mais um filme a explorar a temática saturada do homem de negócios bem-sucedido, que não percebe que deixa de aproveitar os pequenos prazeres da vida. Esse tipo de personagem, normalmente egoísta, narcisista, inescrupuloso e superficial, já rendeu abordagens recentes muito mais interessantes, seja do ponto de vista dramático (Um Homem de Família), seja do cômico (Click).

Esse é o primeiro problema de Um Bom Ano. O diretor optou por tratar o tema de forma leve, querendo dar um ar de mero passatempo à produção. Dessa forma, tentou imprimir um tom de comédia que jamais funciona. As cenas pretensamente cômicas são ingênuas e abaixo do nível esperado para um filme – mesmo o mais leve – de Ridley Scott. Um exemplo é o uso de aceleração rápida numa cena em que o carro dá uma volta numa praça circular (para mostrar que o condutor estava perdido), recurso que foi utilizado de forma bem semelhante na infeliz nova versão de A Pantera Cor-de-Rosa. É a isso que Um Bom Ano se compara às vezes. Outro momento de equívoco é uma cena na piscina, que tenta criar humor pastelão que não combina em nada com a produção.

Essa sensação de descompasso gerada ao assistir ao filme acontece porque, em diversos momentos, há uma tentativa de vestir a produção de filme sério. Um exemplo é o exímio apuro visual – graças à excelente fotografia e à competente direção de arte –, que retrata a beleza do lugar em tom quase poético. Além disso, há diversas cenas em que o diálogo tenta ganhar um tom de profundidade, o que não funciona por causa da mediocridade do texto e do deslocamento de tais cenas no contexto do filme.

Se, em termos de forma, o filme vai bem – o visual belo talvez seja seu único mérito –, em termos de conteúdo, é pobre e infrutífero. O roteiro mostra uma falta de cuidado inacreditável, dando a sensação de que algumas cenas foram filmadas no improviso. Para piorar, há o surgimento de uma personagem inútil, que não se justifica na trama e não acrescenta nada. É difícil entender sua presença, assim como é complicado perceber as intenções por trás de uma série de momentos caricatos e superficiais.

Em relação ao elenco, a escalação de Russell Crowe é um desperdício. Um dos grandes nomes do cinema atual, capaz de compor personagens tão diversos (vide suas ótimas – e tão diferentes – participações em Gladiador e O Informante, por exemplo), o ator não consegue achar o tom do personagem (em parte pelo roteiro mal-feito), que acaba por gerar empatia nula com o público. Além disso, ele parece velho demais para o papel. Para completar, o elenco de apoio é insosso e pouco acrescenta, com destaque negativo para o par romântico de Crowe – num dos casais mais artificiais dos últimos anos. 

Assim, Um Bom Ano é uma sucessão de equívocos inexplicáveis para alguém como Ridley Scott, um diretor cuja filmografia não trazia nenhuma mácula – até então.

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