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Besta Pop, A

(A Besta Pop, 2018)
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Críticas

Cineplayers

No auge da artificialidade

4,5

O sentimento inicial é de estranheza. Os primeiros minutos de A Besta Pop nos levam a questionar o que estamos vendo, quais seriam as intenções de seus três diretores e onde aquilo tudo chegaria. A proposta radical contra qualquer compromisso estético incomoda a princípio, e essas características nada ortodoxas estão presentes em todos os pontos da produção. Da direção ao roteiro, passando pelo elenco e pelos campos técnicos específicos, tudo é envolto por um espírito anárquico que abre mão dos conceitos mais básicos da feitura de cinema para enquadrar a narrativa dentro de um lugar alternativo das formas convencionais de narrar uma história.

A ideia capturada pelo filme é da ordem do proposital na sua inapetência artística. Uma distopia futurista filmada com o troco do café que tem a consciência do seu alcance enquanto produto. Qual a saída? Radicalizar, em todos os sentidos e tentar comunicação através de uma outra espécie de catarse. Com a temática LGBTQI+ na pauta do dia, o filme tem um olhar pra esse lado de maneira até convencional e algo moralista em seu desfecho particular, o que sai absolutamente do esperado em tal lugar de fala. Ao perceber essa contradição, salta aos olhos como o trio de diretores Artur Tadaiesky, Filipe Rodrigues e Rafael Silva se perde também no foco do objeto narrativo. Se o filme exala ousadia, como tratar os personagens mais libertários da forma vista?

Ainda que as estranhezas e imperfeições se imponham imageticamente, o lugar de defesa do roteiro (ainda que nas questões sociais) cai por terra ao escolher amplificar sua narrativa com vozes suficientes para traçar um rascunho coral, mas que é assolado por esse posicionamento antiquado para o ser humano retratado ali. E é nesse lugar que sua área artística flertando com a guerrilha não consegue confluir suas ideias, da realização até a construção narrativa de roteiro. O filme inclusive incorre em uma espécie de tique, que é promover um beijo hetero como seu climax final, uma espécie de tentativa de liberdade frente à invasão da repressão através do desabrochar de um sentimento quase infantil e burguês.

Ao abraçar o convencionalismo enquanto moral relativa da sociedade, o filme abre mão da diversão do seu visual e das picardias juvenis para se unir a uma fôrma consagrada e conservadora. Um exemplo disso é um determinado personagem que passa por uma grande mudança na produção e termina com ela abraçando a culpa violenta. Aí de nada adianta vender a ousadia conceitual de um projeto para moldar sua moral pelo ponto de vista vigente repressor do momento, que acaba por esvaziar suas pretensões (ainda que modestas) de comunicar com o público sobre levante popular de minorias com o simples fato de suprimir a efervescência por um bom mocismo.

Crítica da cobertura da 3ª Mostra SESC de Cinema de Paraty

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