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Críticas

Cineplayers

Um super-herói sem caráter.

6,5

Quando Seth Rogen se pôs a frente do projeto para ressucitar o super-herói de uma telesérie fracassada, a primeira reação da crítica foi chiar. Besouro Verde é baseado num personagem criado para o rádio em 1936, cuja história foi transformada em série de TV 30 anos depois. Com apenas 26 episódios, o seriado acabou cancelado com apenas uma temporada devido à baixa audiência. Apesar da vida curta o Besouro Verde acabou deixando seu legado para a cultura pop: o surgimento de Bruce Lee em seu primeiro papel relevante no mercado americano.

No filme, Brit Reid (Seth Rogen) vive sua vida de herdeiro despreocupado enquanto seu pai, Jack Reid (Tom Wilkinson) luta para manter a independência das escolhas políticas de seu jornal, O Sentinela Diário. Após a morte inesperada de Jack, Brit descobrirá que o mecânico da família, Kato (Jay Chou), possui extraórdinárias skills que envolvem mecânica, eletrônica, química e artes marciais. Um belo dia os dois decidem sair pra uma noitada diferente a bordo do super carro criado por Kato, o Beleza Negra. A partir daí o herdeiro mimado resolve que protagonizará as próximas manchetes de seu próprio jornal, criando para isso um personagem mascarado que se chamará Besouro Verde.

O grande charme de Besouro Verde é justamente a falta de cárater com que se lança no mundo dos super-heróis. Enquanto a maioria dos personagens clássicos, como Superman e o Homem-Aranha, surgem para combater a criminalidade e levar um pouco de justiça aos fracos e oprimidos, Brit Reid desvirtua essa ordem ao 'dessacralizar' a lógica do herói, expondo maquinalmente a parte fútil deste processo. Enquanto Clark Kent e Peter Parker, ambos jornalistas, vivem uma sub-relação com a mídia, precisando intervir nas mentiras envolvendo suas identidades secretas, Brit está um passo a frente, consciente da necessidade de criar seus próprios factóides e erguendo sobre si uma aura de ambiguidade, livre para agir sem nenhuma coerência aparente. Preocupados apenas em fazer barulho e escolher a máscara correta, Brit e Kato começam sua jornada partindo de própositos nada nobres, para só além alcançar a iluminação dos verdadeiros heróis.

Roteirizado/produzido por Seth Rogen e dirigido por Michel Gondry, a produção de Besouro Verde quase encalhou devido à divergências entre a equipe e o estúdio. Em entrevista quando do lançamento nacional de Rebobine, Por Favor (Be Kind Rewind, 2008), Gondry, perguntado sobre qual seria o nível de liberdade criativa que teria na direção de seu primeiro blockbuster, afirmou que sua marca autoral estaria lá e que o mais importante nesse jogo com os grandes estúdios é deixar que todos pensem que você está fazendo o que foi planejado.

Se filmes de herói nada têm de novidade – mesmo que Kick Ass - Quebrando Tudo (Kick Ass, 2010) e Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim Vs The World, 2010) tenham lá seu frescor -, Besouro Verde consegue alguma simpatia ao lançar a disputa entre um esquema old school de ser temido, representado por Chudnosfy (Christoph Waltz) e seu bando de pequenos marginais, contra  Brit e Kato que unem gadgets tecnológicos e poder midiático para serem respeitados no mundo do crime.

Essa dicotomia entre um savoir-faire orgânico e outro mais tecnológico mescla-se à própria trajetória de Gondry, cujas produções são reconhecidas pela originalidade no uso de técnicas mais artesanais para a criação de efeitos visuais. Quem apostava que o orçamento generoso afastaria o diretor de um cinema mais handmade, errou feio. Sem ignorar o fato de que filmes de super-heróis são feitos de boas explosões, perseguições de carros e mulheres bonitas, Gondry consegue harmonizar a computação gráfica a seu estilo de direção, transformando o que seria mais uma comédia de ação em um filme com alma e humor próprios.

Para quem achava que ia dar de cara com uma verdadeira bomba, a surpresa foi boa. Engraçada e espirituosa, a história de Besouro Verde, apesar de parecida com todas outras, carrega a marca de seu tempo onde a construção de uma imagem vale mais do que a afirmação de qualquer talento.

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