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Críticas

Cineplayers

Bridget Jones no limite.

5,5
Lá se vão 15 anos desde a primeira vez que a trintona solteira Bridget Jones deu as caras nos cinemas pela primeira vez. O sucesso das publicações de Helen Fielding era imenso e sua adaptação cinematográfica só fez ampliar esse alcance de uma personagem extremamente popular e carismática. A ideia foi tão absurdamente bem sucedida que talvez Bridget Jones tenha sido a última clássica comédia romântica do cinema, nos últimos anos nada tem nem de longe feito a diferença que os anos de Julia Roberts, Meg Ryan e Sandra Bullock. Até porque tem uma mitificação à personagem anterior ao(s) longa(s), uma penca de fãs que garantiu o sucesso da versão tela grande da criação de Fielding. Isso aliado ao carisma certeiro do trio protagonista e aos diálogos impagáveis da produção fizeram esse status se confirmar, e perdurar. O que depois de Bridget Jones foi maior que Bridget Jones? Nada.

Uma continuação foi feita, sem arranhar a imagem do original. Agora um novo produto da grife chega ao mercado e... não creio que algo vá mudar. De novo. Tirando o fato de Hugh Grant não estar presente e de Bridget se encontrar em um "estado interessante", tudo continua quase igual. O quase se dá pelo fato de que muito mudou na carreira de sua dupla protagonista, e no rosto tb. Enquanto Colin Firth adquiriu predicados de bom ator, 1 Oscar, diversos outros prêmios e quilos a menos, criando uma aparência mais saudável digna de um astro, a intérprete da personagem-título também ganhou Oscar (no caso dela, um dos piores da história) e aparência saudável... menos no rosto. Por que esse comentário ultra fútil? Porque a atriz com sua enxurrada de intervenções estéticas perdeu o charme, a graciosidade e parece uma boneca de cera. Isso não interfere, ou não deveria interferir em sua interpretação, mas interfere com nosso comprometimento com a obra, que cria um viés triste de decadência (atrelada também a situação atual da carreira de sua estrela, deplorável).

A trama é um compêndio de situações típicas de Bridget: no dia de um outro aniversário solitário, nossa heroína toma a decisão de relaxar e curtir a vida, ao invés de continuar lamentando sua falência amorosa. Separada do personagem do Mark Darcy de Firth, ela parte junto a uma amiga para um final de semana numa espécie de rave. Lá conhece um cara atraente e cavalheiro (vivido por Patrick Dempsey) com quem acaba tendo uma noite tórrida, fugindo no dia seguinte rumo a um batizado onde encontra... Mark. E acaba tendo recaída com ele. Logo então o título do filme se justifica, sem que saibamos quem é o pai do bebê. Pior: nem Bridget sabe. Ou quer saber. No meio tempo ela vai se envolver com ambos, e meter os pés pelas mãos mais uma vez.

Sharon Maguire tem mão delicada e consciência da extrema acessibilidade que a personagem exerce no público feminino; sua experiência na primeira e mais bem sucedida versão de Bridget provavelmente a colocou de volta aqui na série. A base do roteiro se aproveita também do mesmo expediente, de já conhecer e ter uma relação com o universo, a mocinha, seus pais e seu príncipe errante (e o rival da vez). Bridget Jones é uma amiga querida, uma irmã, uma prima ou nós mesmos, em muitos aspectos; então é fácil estar naquele lugar, sempre foi, de observar uma mulher tipicamente fora dos padrões e que erra bem mais que acerta, mas sempre tem o intuito de acertar, ainda que por meios tortuosos. Mente, sofre, ama, se esborracha literalmente - e talvez por isso seja igualzinha a tanta gente.

Incomoda observar tão simpática figura, a ponto de me confundir em algumas atitudes dela, com uma lupa tão física. Mas me sinto impelido a fazer a partir do momento que Sharon consegue por vez ou outra planos surpreendentemente reais dela, livre das cirurgias, por mais que eles durem alguns segundos as vezes, mas que nos colocam em real conexão com aquela velha amiga. Unidos a um momento onde o personagem de Firth relembra o passado e o filme utiliza imagens dos longas anteriores, fica claro que algum dia tivemos uma atriz em cena cujas feições não atrapalhavam a fruição da obra, tendo em vista há quantos anos conhecemos Bridget; de repente, não conhecemos mais. E é esse o grande problema do novo capítulo dessa saga, quando a vida emperrou a arte. Numa produção tão refém de identificação e carisma, cujos motes não são exatamente inéditos nem em seu próprio universo, é no mínimo estranho observar que aquela mulher foi soterrada, e agora precisamos conviver com uma Bridget repaginada e descaracterizada.

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