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Críticas

Cineplayers

Com narrativa seca, consegue retrar os lados político e humano.

7,0

Bárbara (Barbara, 2012) entra no hall daquelas obras do cinema alemão que narram o cotidiano de pessoas comuns durante a divisão do país entre capitalistas e comunistas, sem se desvencilhar deste tema.

A personagem-título é uma médica da Alemanha Oriental enviada de Berlim para o interior após tentar visto para deixar o país. Em função disso, divide os dias entre a dedicação materna aos jovens internados no hospital e a espera para pôr em prática a fuga traçada pelo namorado, morador do lado ocidental. Enquanto isso, ela sofre com constantes inspeções policiais em seu apartamento.

Esgotada com a vida do lado comunista, ela prefere se isolar enquanto o dia de partir clandestinamente não chega. Ela é fria e seca com todo e qualquer adulto. Prefere manter distância, desconfiada de que qualquer um deles pode estar lá apenas para espioná-la. Por isso, no hospital, evita contato com os demais médicos e pouco interage com a população local, a quem também parece culpar por sua aparente infelicidade. Existe, porém, uma única exceção. André, médico chefe do local, consegue conquistar  sua confiança, por mais que ela nunca fique totalmente segura em acreditar nele. Por isso, a fuga planejada sempre permanecerá como absoluto segredo.

A paranoia – justificada - com a população adulta fica ainda mais evidente quando Bárbara demonstra ser extremamente carinhosa e atenciosa com os pacientes, todos jovens. A eles, parece não imprimir nenhuma culpa pela sua própria condição de aprisionamento. Ou talvez se sinta solidária pelo fato de atender adolescentes que buscam nada mais do que a libertação – exatamente o que ela mesma procura. Mas o filme não elege mocinhos e vilões, ninguém é mau, todos vivem uma realidade política maior, da qual ou se acostumam ou tentam escapar. 

Para Bárbara, que optou pela fuga, os planos nem sempre caminham como pensado. Mas essas mudanças imprevistas acontecem sem ação, reviravoltas ou fortes emoções. A inconstância dos desejos íntimos surge com calma, por meio desta personagem que parece guardar o que sente da forma mais secreta possível, sem nunca deixar transparecê-los. Mas percebe-se, ao final, que ela sempre esteve envolta em um turbilhão de sentimentos, mas preferiu a discrição. Talvez como forma de se preservar independente do caminho que sua vida tomasse.

Bárbara é um filme absolutamente plano. Nada de altos e baixos, picos ou clímax. Tudo termina no ritmo que começou. A sequência final, aliás, retrata aquela que deve ter sido a mais difícil decisão da protagonista, tomada sem sequer fornecer pistas anteriores ao espectador. O diretor Christian Petzold conseguiu com uma narrativa cautelosa e sem pressa transmitir o clima do lado comunista na época e, também, as angústias do ser humano.

Comentários (2)

Adriano Augusto dos Santos | quinta-feira, 25 de Outubro de 2012 - 09:41

Esse último parágrafo me chama atenção.
Filmes que mantém o ritmo são ótimos.

Patrick Corrêa | quinta-feira, 05 de Setembro de 2013 - 17:03

É um ótimo filme mesmo.
E o texto, simples e direto como o filme, bem escrito. 😉

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