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Críticas

Cineplayers

Uma agradável mistura de gêneros que consegue fugir de grandes clichês.

7,0

Vem Dançar; Ela Dança, Eu Danço; Dança Comigo?. Esses são os títulos de alguns filmes com uma temática em comum: a dança. Quando fui assistir à Baila Comigo podia jurar que se trataria de mais um filme sem a menor inventividade sobre esse assunto que se tornou tão presente nas salas de cinema. Mas me enganei. O novo trabalho do diretor Randall Miller, por mais que não seja um mar de criatividade, tem o seu quê de originalidade. Uma agradável surpresa dançante.

A história enfoca a vida de dois personagens. Frank (Robert Carlyle), padeiro, profissão passada de geração para geração em sua família, e Steve (John Goodman), que recebe ajuda de Frank ao sofrer um acidente em uma estrada. Para manter Steve lúcido até a chegada do resgate, o padeiro começa a conversar com o rapaz. Então, o acidentado conta para Frank que estava indo ao encontro de Lisa (Camryn Manheim), que conhecera ainda criança. O encontro, combinado, na adolescência, para o 5° dia do 5° mês do 5° ano do novo milênio, fora marcado para a Escola Marilyn Hotchikiss de Dança de Salão e Etiqueta. O padeiro promete ao homem que irá ao encontro de Lisa para dizer que Steve estava a caminho quando bateu o carro. A princípio, Frank – que perdeu a esposa - não encontra a mulher, mas acha nas aulas de dança uma alegria há muito perdida.

Baila Comigo apresenta um charme todo especial na forma encontrada para situar o espectador no tempo. Passado, presente e futuro são separados por mudanças gritantes na fotografia das cenas. O passado é a fase em que Steve ainda era criança e começou a descobrir que as mulheres não eram apenas ameaça às brincadeiras masculinas, graças, em parte, ao surgimento da escola de dança e etiqueta. Nesse tempo, a fotografia do filme é granulada, como se tivesse sido realmente filmado com tecnologia dos anos 70.  Depois, o presente é o momento do acidente de carro em que Steve recebe auxílio de Frank. Enquanto narra como conheceu Lisa na infância e pede que o rapaz vá ao encontro dela, a fotografia de Jonathan Sela apresenta poucas cores, quase chegando a um total preto-e-branco. Algo semelhante ao que foi visto no ótimo Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood.

O terceiro tempo é uma espécie de presente-futuro, são os momentos que ocorrem quando Frank vai ao encontro na escola de dança e tenta localizar Lisa. Ao mesmo tempo, somos melhor apresentados à vida do padeiro. Nesse momento as cenas são mais coloridas. A mudança na fotografia foi um ótimo recurso encontrado. Como os três tempos ocorrem simultaneamente (por sinal, muito bem editado pelo próprio Randall Miller), as mudanças nas cores deixam claro ao espectador qual momento da história estamos acompanhando.  

O ator Robert Carlyle se destaca na pele do padeiro. Uma atuação firme, convincente. E olha que no elenco estão grandes artistas como Marisa Tomei, John Goodman, Danny Devito (que aparece muito pouco), Mary Steenburgen, a brasileira Sonia Braga, entre outros. 

Talvez, o único ponto merecedor de ressalvas são as constrangedoras cenas em que Frank está participando das reuniões do grupo de apoio para viúvos. A sensação é de que estamos acompanhando a discussão de pessoas com deficiências mentais, e não uma discussão de homens que perderam suas esposas e tentam, juntos, superar o trauma. Tudo que acontece nessas reuniões é de grande mau gosto. Inclusive quando Frank, após ter feito apenas uma aula de dança, já se sente à vontade para, sorridente, ensinar o psicólogo das reuniões a dançar. De resto, o filme acerta em cheio. As danças são gostosas, o humor é leve e irreverente, o drama também não é excessivo. O ótimo e imprevisível final consegue juntar vários elementos: drama, romance, comédia. Portanto, Baila Comigo não decepciona e cumpre seu papel.

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