Homem versus Natureza: nessa guerra, por enquanto, a Natureza está saindo vencida. Ainda há tempo de mudar isso (?).
Nos últimos anos, o sentido de urgência para a preservação do nosso planeta vem crescendo astronomicamente, e fica cada vez mais clara a finitude de nossos recursos naturais. Por isso, faz-se, mais do que nunca, a necessidade iminente de mudarmos nosso comportamento perante o uso da energia e bens naturais. O cinema, como espera-se dele, por ser uma ferramenta de riquíssimas possibilidades em todos os setores, vem adquirindo papel importante na questão da preservação ambiental. Após o sucesso de Uma Verdade Inconveniente e de alguns outros filmes que discutem o problema “Homem versus Natureza”, como o recente Fim dos Tempos, de Shyamalan, além de filmes que simplesmente celebram a vida animal, como o também recente A Marcha dos Pinguins, a tendência é de que esse assunto seja cada vez mais frequente também nessa mídia. O que, sem dúvida, é algo ótimo.
Aventuras no Novo Ártico é mais uma mensagem, quase um pedido, pela preservação ambiental. É simples e direta: o momento de começar a mudar nosso comportamento é agora. Ao demonstrar de forma objetiva que ações como o consumo exacerbado e a poluição incessante das grandes cidades podem influenciar negativamente na vida de simpáticos animais que vivem no Ártico, criando uma contagem regressiva para a extinção dessas espécies (e do próprio continente gelado), o filme dá um tapa na cara dos ignorantes que ainda insistem em não acreditar no aquecimento global. Os 90 minutos que assistimos aqui são o resultado de 10 anos de exploração e observação da vida naquele continente, trabalho feito com amor e dedicação – e isso é visível no filme todo.
O ponto é que as conclusões do filme são sólidas, e não fruto de teorias confusas e questionáveis, que dão muita margem a céticos. São provas gravadas das mudanças radicais que aquela região está passando: mudanças nos períodos de gelo e de degelo, ocasionando problemas sérios na vida dos animais; menos comida a cada ano, provocando a morte prematura de milhares de seres das mais variadas espécies. Como o Ártico é muito grande e a riqueza de espécies também é enorme, o filme foca em duas delas: as morsas e os ursos polares (estes últimos bichos que têm um apelo incrível, sobretudo entre crianças). Contando com uma narrativa leve e precisa, o filme acompanha principalmente um espécime de cada um, desde seu nascimento até a luta pela sobrevivência, já na idade adulta.
Apresentado a vida dos animais como um enredo cinematográfico – inclusive com nomes para os dois animais – os diretores criam um laço entre o espectador e o conteúdo apresentado a eles, fazendo com que a mensagem seja muito mais bem transmitida, pois o vínculo, ao final do filme, é forte, já que sabemos que aquilo não é fruto de ficção. Ainda que Aventuras no Novo Ártico tenha cara de documentário feito para a televisão, ele tem força cinematográfica suficiente para funcionar nesse formato, justamente por causa dessa inteligente narrativa, que ocorre de forma paralela entre as duas espécies. Lá pelo ato final, ambos – urso e morsa – encontrarão-se em uma excitante e definitiva batalha pelas suas vidas. Vale dizer que, em uma época de documentários bastante originais e relevantes sobre inúmeros temas, este aqui não tenta inventar nada de diferente em termos visuais e narrativos para passar sua mensagem – e nem precisaria, nesse caso, já que a própria região é belíssima e o drama dos animais é o suficiente para prender a atenção do espectador (deveria, pelo menos).
Deixando um pouco de lado a parte séria do documentário, o filme também possui ingredientes típicos de um trabalho completo para o cinema: drama, comédia, suspense e terror. Todos esses elementos estão agregados na narrativa de nossos dois protagonistas, que passam por maus e bons bocados e, ainda que eles possam ser considerados manipuladores, no sentido de servirem principalmente para atiçar nosso senso de preservação e tentar nos convencer a tomar atitudes pró-natureza, o resultado apresentado é encantador e a intenção é o que vale aqui. Aventuras no Novo Ártico é um filme divertido, informativo e com uma mensagem que não pode mais ser ignorada. Não vai mudar o mundo, mas se conseguir fazer as pessoas pensarem um pouco mais sobre seus atos em nosso planeta, certamente terá cumprido seu objetivo.
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