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Críticas

Cineplayers

Em mais um da Trilogia do Silêncio, Bergman cria um trabalho assustador e memorável.

8,0

Com Através de um Espelho, Ingmar Bergman deu início a sua “Trilogia do Silêncio”, que continuou com Luz do Inverno e terminou em O Silêncio. Todos têm como tema, como o próprio nome indica, o silêncio, seja o silêncio de Deus (recorrente na obra do cineasta), a incapacidade de comunicação ou mesmo o vazio existencial. O tema vem embalado pela música de Bach e pela brilhante, esfuziante, fundamental fotografia de Sven Nykvist (impossível falar da história do cinema sem citar o trabalho do fotógrafo sueco).

Por Através de um Espelho Bergman venceu o primeiro de seus três Oscar de melhor filme estrangeiro - venceria novamente na categoria por A Fonte da Donzela e “Fanny & Alexander”, sendo que os dois últimos venceram e foram indicados em outras categorias, como figurino, direção de arte e o fotógrafo, Sven Nykvist, talvez o maior do cinema em todos os tempos, que também venceu quatro vezes (neste Através de um Espelho seu trabalho é nunca menos que brilhante, criando uma aura especial para os ambientes que se passavam no entardecer e à noite – ele não tinha a mão os artifícios que existem hoje para externas no período noturno.

A trama parece inconcebível para os dias de hoje. Um homem egoísta praticamente abandona os filhos. Está escondendo deles sua mediocridade como escritor, pai e ser humano. Não compartilha da vida deles, renega-lhes atenção, isola-se, sendo que muitas vezes se assusta com o próprio egoísmo e os efeitos perversos que suas atitudes causam.

Sua filha (Harriet Handerson) está com problemas mentais, os mesmos que levaram a mãe à morte, e a enfermidade se agrava rapidamente. O filho, um adolescente carente, faz de tudo para lhe chamar a atenção, mas recebe de volta a frieza, o racionalismo, o desprezo, um tratamento cortês e distante. Há ainda o genro (Max Von Sydow), que cuida com desvelo de sua filha, mas cobra do sogro seu papel na família.

Entre embates verbais ríspidos, planos de tirar o fôlego e uma sobriedade de direção que fizeram o nome de Bergman figurar como um dos maiores do cinema, a trama segue seca, precisa e áspera. O diretor arranca, como de hábito, fenomenais interpretações dos atores. É um filme assustador, que fica na memória e causa enorme desconforto mesmo muito tempo depois de ser visto.

Enfim, simplesmente essencial.

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