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Críticas

Cineplayers

Roland Emmerich vs. Casa Branca, round 4.

6,0

De tempos em tempos, seja por estranhas coincidências ou simplesmente má-fé dos estúdios, Hollywood tem a tendência de lançar, em um período muito reduzido, filmes com temática semelhante, que poderiam até gerar acusações de plágio. Foi assim com Volcano – A Fúria (Volcano, 1997) e O Inferno de Dante (Dante’s Peak, 1997), Armageddon (idem, 1998) e Impacto Profundo (Deep Impact, 1998), Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003) e O Espanta Tubarões (Shark Tale, 2004) e O Ilusionista (The Ilusionist, 2006) e O Grande Truque (The Prestige, 2006), apenas para citar alguns. A bola da vez, agora, é nada menos que a Casa Branca, lar do homem mais poderoso do mundo e considerado um dos lugares mais seguros do planeta. Há alguns meses, ela foi invadida por terroristas norte-coreanos – prontamente repelidos por Gerard Butler – em Invasão à Casa Branca (Olympus Has Fallen, 2013). Mal se recuperou e a sede do governo ianque acaba de sofrer mais uma invasão nos cinemas, em O Ataque (White House Down, 2013).

Agora, a destruição é comandada por aquele que talvez seja o maior inimigo da Casa Branca: o cineasta alemão Roland Emmerich. Essa é nada menos que a quarta vez em que o diretor põe o prédio abaixo em sua carreira, em um novo trabalho voltado, como sempre, mais ao espetáculo, aos efeitos especiais e à ação do que propriamente à construção de uma história ou de uma narrativa bem pensada. Não que O Ataque seja um desastre. Pelo contrário, é um filme de ação divertido, exagerado, que acaba entregando exatamente as explosões, a pancadaria e a falta de inteligência que promete. Afinal, alguém ainda assiste a um filme de Roland Emmerich esperando algo além disso?

O cineasta e seu roteirista James Vanderbilt até começam de forma surpreendentemente contida, principalmente se for levada em conta a inclinação de Emmerich para explosões gigantescas. O primeiro ato de O Ataque é bastante tranquilo e eficiente, com o roteiro precisando de nada menos do que trinta minutos para apresentar cada um dos personagens, em uma tentativa clara de humanizá-los com o objetivo de que a plateia venha a se identificar com eles no decorrer da ação. No entanto, por mais que seja um esforço sempre válido de se construir uma base para a história, Vanderbilt e Emmerich jamais conseguem ir além dos estereótipos, tanto na caracterização dos personagens quando na construção da relação entre eles: a história envolvendo o protagonista e sua filha, por exemplo, não poderia ser mais óbvia, com a garota inicialmente brigada com o pai até o final redentor, no qual ela voltará a chamá-lo de “pai” e ele terá novamente o amor dela. Piegas? Não apenas isso, mas também absurdamente batido.

Construído inteiramente sobre clichês dessa estirpe, o roteiro de O Ataque jamais busca alcançar qualquer patamar de inteligência. O fato de trazer um presidente negro ou a subtrama envolvendo o conflito no Oriente Médio, que poderiam trazer algum comentário com a realidade, por exemplo, jamais passam de meras desculpas para a ação. Da mesma forma, as obviedades se multiplicam na tela (um doce para quem adivinhar de que servirá o relógio guardado próximo ao coração?) e até mesmo os pontos onde há algum acerto logo são arruinados pelo excesso de tentativas. É o caso do plano do vilão: o filme cria uma justificativa perfeitamente compreensível para suas ações, mas depois parece sentir a necessidade de realmente querer transformá-lo em um gênio do mal ao querer explodir meio mundo. E o que dizer do afetado hacker que escuta música clássica, chupa pirulito e é devoto a Shiva? Puramente uma tentativa fútil de criar personalidade a um personagem sem a menor graça. Menos, Emmerich, bem menos.

Por outro lado, o diretor transforma sua produção em um entretenimento eficaz devido a uma simples abordagem: tratar tudo como uma grande brincadeira. O Ataque é exagerado, é absurdo e é inverossímil, o que alivia as besteiras do roteiro e da trama – por que levar tudo tão a sério quando nem mesmo os realizadores tinham essa intenção? Esse tom jocoso pode ser facilmente percebido em um sem-número de cenas, como a sensacional e divertida perseguição de carros nos jardins da Casa Branca com o presidente usando um lança-mísseis (desde já candidata a uma das sequências mais inusitadas do ano), a referência a Independence Day (Independence Day, 1996), os helicópteros sendo fotografados por espécies de pardais (!) ou a frase dita pelo presidente pouco após trocar seus sapatos por tênis: “Tire as mãos do meu Jordan!”. Pode ser ridículo – e, na verdade, o é –, mas serve para dizer à plateia que ela precisa simplesmente relaxar e curtir toda a pancadaria. Essa abordagem “juvenil”, aliás, é o que mais difere O Ataque de Invasão à Casa Branca, que se supunha sério e mais calcado na realidade, inclusive com altas doses de sangue e violência gráfica, algo que aqui não se encontra.

E é impossível analisar O Ataque sem compará-lo a Duro de Matar (Die Hard, 1988), um dos melhores e mais icônicos filmes de ação de todos os tempos. Do herói enfrentando sozinho um grupo de bandidos dentro de um único local, passando pela camisa de física branca e chegando até as tiradas espirituosas do “protagonista”, praticamente tudo remete ao clássico de John McTiernan. No entanto, enquanto o filme que lançou Bruce Willis ao estrelato conseguia unir tudo em uma narrativa ao mesmo tempo divertida e humana, que fazia o espectador se preocupar com o mocinho, aqui é tudo de plástico, descartável. Não há envolvimento emocional, resultando em uma experiência visual e esquecível. A tentativa de Channing Tatum de emular o sarcasmo de Willis chega a ser risível, especialmente as cenas puramente expositivas, nas quais ele fala consigo mesmo sem qualquer necessidade. Ainda assim, o ator carrega bem o filme, funcionando como herói de ação, enquanto Jamie Foxx emprega seu carisma para transformar o presidente norte-americano em um presidente norte-americano que só existiria na ficção.

Empregando o CGI de maneira duvidosa, com diversos momentos nos quais é fácil perceber o uso de computação, Emmerich não procura construir tensão ou nervosismo nas cenas de ação, preferindo unicamente o espetáculo dos efeitos visuais. De todo modo, as sequências são bem conduzidas, evitando o excesso de cortes típico das produções atuais – aqui, ao menos, é possível ter noção de espaço e compreender o que está acontecendo. O cineasta, no entanto, não consegue evitar o apelo para instantes de deus ex machina ou para os intermináveis tiroteios nos quais as balas acertam tudo, menos o herói. Da mesma forma, a falta de sutileza de Emmerich também se faz presente em O Ataque, como nos diálogos piegas (“Nosso país é mais forte que uma casa”) ou em cenas melodramáticas, a lembrar o da garota tremulando a bandeira no terceiro ato. Sem contar que o cineasta não parece possuir noção de tempo: os oito minutos que o herói tem para salvar a todos são provavelmente os mais longos da história do cinema.

Porém, mesmo longo e caindo em uma reviravolta desnecessária perto do final, O Ataque tem bom ritmo e diverte com sua irreverência e inverossimilhança. Claro que, para isso, é preciso deixar de lado incongruências como a facilidade de se dominar a Casa Branca ou os caminhos fáceis adotados pelo roteiro (a bomba do Hacker?) e simplesmente aproveitar aquilo que Roland Emmerich faz como poucos: explosões e destruição em massa. Especialmente de seu alvo favorito.

Comentários (15)

Yuri Mariano | terça-feira, 08 de Outubro de 2013 - 17:20

Nota 6.0? Acho que o Pilau foi um pouco generoso!

Renato Coelho | segunda-feira, 28 de Outubro de 2013 - 12:50

Antes de ler a crítica, vi o filme e logo o relacionei ao Duro de Matar. O problema é que trata-se de cópia. Uma cópia divertida é verdade, mas sem a emoção. Bem melhor que Invasão à Casa Branca, o filme não desaponta no quesito ação. Nota 5,5.

Vinícius Aranha | terça-feira, 29 de Outubro de 2013 - 22:11

Jason Clarke precisa ser melhor aproveitado em Hollywood. O cara tem tudo pra ser o novo Statham.

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