Um filme que trata do preconceito sempre procurando fugir dos clichês do assunto.
Filmes como esse são difíceis de se encontrar hoje em dia. Confesso até mesmo que eu não estava muito crente que pudesse sair algo de bom desta produção. Ainda bem, me enganei. Se esse filme não fosse uma produção datada de 2001, provavelmente já estaria figurando entre a minha lista das "surpresas do ano".
Léa Pool sempre teve um potencial absurdamente grande para tratar e mostrar romances - do mais simples ao mais tórrido - nas telonas. E aqui ela demonstra esse seu talento mais uma vez, entretanto, com uma pitada de literatura Shakeaspereana e com uma história envolvente. Assunto de Meninas participou da seleção do festival de Sundance de 2001 e levou alguns outros prêmios menos importantes.
Assim como existem jogos de futebol que é comum dizermos que "esse é um jogo pra queimar a língua de comentarista", esse é um filme que poderíamos dizer que está ai pra "queimar os dedos de um crítico". É simples; ele trás uma história de amor, envolvendo três adolescentes, o que a principio pode já não agradar muita gente, mas calma, não deixem levar-se pelas aparências. Geralmente é oito ou oitenta; ou você se sensibiliza com o passar da história ou então simplesmente desliga sua televisão e vai curtir outra coisa. Contudo, existem ainda alguns outros pontos do filme que realmente são muito bons e acabam agradando geral como é o caso da direção de arte e da trilha sonora.
A película conta a história do ponto de vista de Mary Bradford (Mischa Barton de O Sexto Sentido; pra quem não se lembra dela no filme de Shyamalan, ela era a menininha que o Osment ajuda, morta pela madrasta), uma menina tímida e quieta que é levada para um colégio interno, formado apenas por garotas, por seu pai após a morte de sua mãe e a pedido de sua madrasta. Logo chegando em seu novo lar, Mary é apresentada às suas duas colegas de quarto, Tori Moller (Jéssica Pare) e Paulie Oster (Piper Perabo). Ao passo em que Mary vai tentando se adaptar ao local e arrumar suas coisas, ela logo descobre que Tori e Paulie são na verdade amantes. Quando Tori se vê sobre uma pressão enorme, incluindo por parte de sua pequena irmã que estudava no mesmo local, ela decide terminar seu relacionamento com Paulie. Obviamente, Paulie não aceita isso e faz de tudo para conquistar Tori de volta. Ao mesmo tempo, Tori pede a Mary que fique do lado de Paulie e que a de suporte para tudo aquilo que ela precisar.
Ao contrário do que muitos podem pensar pela primeira vez, o filme não usa e abusa de cenas tórridas de amor entre as duas protagonistas para "se vender", pelo contrário, seqüência de amor mesmo só há uma e nada mais. Mas o suficiente para dar o clima sensual e erótico (não pornográfico!) necessário a "Lost and Delirious".
Sexualidades à flor da pele a parte, as atuações do filme são muito boas. Cheias de simbolismos, diálogos muito bem construídos e um show a parte de interpretação da jovem Piper Perabo, que lembra muito fisicamente a atriz Claire Forlaine. As frases de Piper são sempre bem carregadas, emocionalmente falando, alusivas e simbólicas. Seu comportamento explosivo fica bem em contraste com o de Tori, passiva, completamente oposta a Paulie. O romance das duas começa bem no filme, a partir do momento em que elas se separam as coisas soam um pouco artificiais, entretanto, logo no final você perde rapidamente essa sensação.
A direção de arte do filme é ótima, bem como a fotografia e os cenários. O visual da escola é lindo, bem como os campos que o cercam. Aquele falcão dá um toque especial não só na personagem de Piper mas como no visual do filme todo em si.
Mais belo que o cenário, porém, só mesmo a trilha sonora que é excelente! É impressionante como ela está bem presente em quase ou praticamente todas as passagens importantes do filme, músicas e temas de primeira qualidade mesmo. Entre elas as principais são "You Had Time", linda música de Ani DiFranco que começa com um solo de piano e termina com um violão, no melhor "acustic mode", muito triste por sinal também, mas ainda assim maravilhosa; Beautiful, de Me'shell Ndegeocello, essa é a musica-tema do filme, muito bela também, o ritmo lembra muito Paula Cole, os fãs de Dawson's Creek vão se identificar muito com a trilha do filme. "Sanctus" e "River Waltz" compõem músicas de outros estilos (coro e country, respectivamente) que também dão diversidade a trilha. E pra finalizar com chave de ouro, "Add It Up" do grupo Violent Femmes, música no melhor estilo "Beatles em início de carreira". Uma trilha e tanto, repetindo, sempre presente!
Graças a Deus o filme não fica preso a qualquer tipo de estereótipo. O final é ótimo justamente por não ser clichê; muitos acusam a diretora de ter deixado o filme muito melancólico em seus minutos finais, entretanto, a mim isso não surpreendeu, afinal, o que esperar de uma película com tantas referências Shakeaspereanas? Ops, vou parando por aqui, se não vai ficar claro demais.
Finalizando gostaria apenas de lembrar que em nenhum momento durante a criticas utilizei o termo "lésbicas"; a começar porque o filme não deve ser encarado dessa forma, segundo, por que como a própria Paulie Oster proclama no filme: "Não sou lésbica, sou Paulie que ama Tori e aquela é Tori que ama Paulie", numa clara referência ao preconceito com que o termo geralmente é empregado. Ok, aqui pode até soar clichê, por minhas palavras, mas no filme, de forma alguma.
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