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Críticas

Cineplayers

O filme é belo e muito bem interpretado, mas cede perante as suas pretensões.

7,5

Filme que garantiu o prêmio de melhor ator em Veneza para Brad Pitt, O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford, título gigantesco para uma obra de pretensões grandes que está cercada de expectativa, produzida por Ridley Scott e primeiro filme americano do Neo Zelandês Andrew Dominik (Chopper).

Começa com o último golpe da gangue dos irmãos James, como restaram apenas dois deles, acabam contratando membros de uma família próxima cujo mais jovem membro é Robert Ford. Para Ford, Jesse James é seu herói de infância, mas conhecer o verdadeiro mito faz suas fantasias desmoronarem, Jesse está decadente, tem que ficar constantemente se mudando com sua família e logo tem que lidar com o medo de traição, quando a polícia coloca uma recompensa por sua cabeça.

Imagino que em histórias cuja morte do personagem título já são anunciadas logo de cara, é preciso criar um vínculo com a futura vítima, mas aqui o personagem central da trama na verdade é o seu algoz, Robert Ford, numa interpretação fantástica de Casey Affleck. Pitt está muito bem como Jesse James, mas não deixa de ser algo familiar para o ator, afinal Jesse basicamente é uma celebridade como Pitt e este usa sua presença em cena para compor um personagem carismático, porém ameaçador. Já Ford é um personagem incrivelmente denso, cuja complexidade é passada com maturidade por Affleck. Ao mesmo tempo esquisito, infantil e perturbado, Ford e sua jornada trágica são muito interessantes.

O problema é que o filme ainda perde algum tempo com outros personagens secundários, e quando você pensa que acabou ainda tem uns bons quinze minutos de epílogo. Por causa disso, a narrativa lenta e poética acaba sugando a energia do filme, diluindo a tensão entre Robert e Jesse. Dominik podia ter se restringido um pouco mais e cortado boa parte da trama de Dick Liddel, por exemplo, mas ele deve ter se sentido um Sergio Leone e tentou elevar o filme a um status épico mas só conseguiu colocar parte da platéia pra dormir. Uma pena, pois seu talento é inegável, o filme foge das convenções do western, mas também parece às vezes muito preocupado com o estilo  - alguns textos narrados me pareceram desnecessários por exemplo.

Não se pode falar do filme sem elogiar a extraordinária fotografia de Roger Deakins. Ele e Dominik conceberam um filme visualmente coeso - o uso de distorções, sombras e cores evocam memórias que se dissolvem no tempo, servindo perfeitamente ao tom da história e aos personagens. A cena da chegada do trem durante o assalto é inesquecível, por exemplo. Vale destacar também a participação especial do cantor Nick Cave, que também foi autor da trilha sonora junto com Warren Ellis, que preferiram uma aproximação minimalista à música do filme.

O Assassinato de Jesse James é uma obra problemática, mas nunca medíocre. É como um prato gourmet de apresentação impecável, mas cujo chef talentoso errou no tempero.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | sexta-feira, 22 de Novembro de 2013 - 17:15

Acho que o melhor do filme, que é muito bom, é mostrar a inversão dos status do Ford e James. Ford, como diz o título, começa apresentado como covarde, depois como herói e termina como começou: um vilão sem honra. James se mostra sempre dou, uma mistura de bandido chamoso e assassino cruel, mas termina com sua imagem martirizada pelo público. Ótimo trabalho nesse sentido.

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