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Críticas

Cineplayers

Quando o tiro sai pela culatra.

4,0

Em relação às comédias atuais (as norte americanas, em especial), tem havido por parte de diretores e roteiristas um grande interesse em converter os signos tradicionais desse gênero em nome de um material novo, que possa vir a ser tachado de inovador e original. Para isso, vários desses filmes recentes de Hollywood estão modificando o que conhecemos por cartilha, sem se desapegar dos clichês, apenas realizando pequenas (porém decisivas) alterações nos chavões de sua categoria. Mas claro que nem todas estas produções conseguem brincar com a habitualidade de forma madura, e com isso acabam por se tornar, infelizmente, mais uma em meio a milhões de outras.

Não são todos os diretores e roteiristas que possuem o talento de, por exemplo, Joel e Ethan Coen, que em um de seus trabalhos mais inteligentes, conseguiram satirizar o subgênero da espionagem. E se cito Queime Depois de Ler (Burn After Reading, 2008) aqui é porque este Assalto em Dose Dupla (Flypaper, 2011) tenta exatamente o que o filme dos irmãos conseguiu com tanto êxito: construir uma nova visão a partir do convencional. O problema é que, mesmo contando com praticamente a mesma munição de que dispunha os Coen(personagens de inteligência excessivamente limitada, situações absurdas e, naturalmente, um subgênero para expôr ao ridículo), os roteiristas também responsáveis por Se Beber, Não Case (The Hangover, 2009) não conseguem imprimir qualquer criatividade para alfinetar com decência os filmes de assalto.

Com isso, o filme rapidamente esgota quaisquer idéias promissoras, já que seus criadores não demonstram habilidade e destreza para torná-las algo mais que imbecil. E eis um elemento humorístico que mesmo havendo aos montes aqui, é descartado plenamente pelo roteiro: a imbecilidade. Há nesta produção, assim como em Queime Depois de Ler, personagens e eventos exageradamente idiotas, mas ao inverso daqui, os irmãos conseguiam transformar tais figuras e situações estúpidas em criações brilhantes dentro daquele contexto. Ríamos, portanto, da falta de noção dos funcionários da academia (hilariamente interpretados por Brad Pitt e Frances McDormand), da paranoia patológica do agente Harry (George Clooney) e da desorientação do ex-funcionário da CIA (John Malkovich). E isso não acontece aqui, pois, apesar de ser auxiliado por vários personagens desengonçados (a dupla inseparável de amigos assaltantes, em especial), o texto atrapalhado não consegue ao menos torná-los engraçados ou minimamente interessantes. São somente seres desengonçados e ponto final.

Mas o pior de tudo aqui é a pretensão. Pois para quem conta com uma história relativamente simples e sem muitos arroubos de criatividade, o filme acredita realmente ser mais inteligente (e divertido) que é na verdade. E isso fica claro durante todo o filme, passando da cansativa brincadeira com as reviravoltas da narrativa até a falta de QI daquelas criaturas. O protagonista, como maior exemplo disso, sempre tem uma piada a postos na ponta da língua, construída por sua personalidade analítica e um tanto quanto compulsiva. Contudo, tanto o intérprete quanto os roteiristas aparentam ter a convicção de que todo o humor destilado nas palavras está funcionando, quando, na realidade, as fórmulas que utilizam jamais saem como o previsto. É comum ver então anedotas relacionadas a raças, etnias e estereótipos (até uma ou outra sobre homossexualidade, mesmo que subentendida), todas transmitidas, claro, sem força ou muita graça existente.

No fundo, Assalto em Dose Dupla não passa de um filme hipócrita que, ao tentar caçoar de seu subgênero, acabou denunciando-se mais limitado e preguiçoso que os clichês que tanto insiste em ridicularizar - e, como não poderia ser diferente, se entregar sem qualquer vergonha. Mas esses equívocos parecem absolutamente imperceptíveis para seus responsáveis, que acreditam fervorosamente numa possível inteligência das gags visuais e da comicidade extraída do embaraço, encerrando, desse modo, a narrativa com os narizes empinados e um errôneo sabor de vitória em suas bocas. Essa é, sem dúvidas, a maior piada do filme.

Comentários (3)

Danilo Itonaga | quarta-feira, 30 de Novembro de 2011 - 14:09

Gostei da crítica. Esse é mais um para lista, eu não vi, não gostei e não vou ver. 😉

Pedro Luis Santos Miranda | quinta-feira, 01 de Dezembro de 2011 - 00:33

acho que dps da crítica, vou engavetar esse tbm..já nao tinha simpatizado mt mesmo...rs

Valeria Miguez | domingo, 04 de Dezembro de 2011 - 07:43

Concordo com o Pedro Paulo!

O filme faz juz ao Gênero Comédia: Diverte e prende a atenção até o final.

Como eu disse em meu texto, o personagem do Dempsey, o Tripp, é uma mistura de: The Mentalist + Psych + Monk. 😋 É hilário!

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