O cinema mexicano quase não chega no Brasil e, quando chega, é algo como Arranca-me a Vida, novelão com ares de superprodução, que carrega as tintas no melodrama e na cafonice para contar quinze anos da história de Catalina Guzmán, moça do interior que acaba por se casar com um ambicioso oficial do exército.
Catalina (Ana Claudia Talancón) aparece pela primeira vez, em 1932, como uma jovem determinada que se apaixona pelo oficial Andres Ascencio (Daniel Giménez Cacho) e que vê nele a chance de mudar de vida. Menina ainda, procura uma vidente (sim, uma vidente, não há maiores explicações) para que esta a ensine a chegar ao orgasmo (em cena bastante constrangedora).
O casório logo acontece e Catalina parece deslumbrada com sua nova vida. No decorrer dos anos, porém, ela vai amadurecendo e descobrindo o verdadeiro caráter do marido, homem adúltero e politicamente ambicioso que não mede ações para tomar o poder no país. Já mãe e longe da paixão de outrora, conhece o regente Carlos Vives (José Maria de Tavira), revolucionário de esquerda e natural opositor de seu marido, com quem passa a ter um tórrido romance.
Para o diretor Roberto Sneider (um dos produtores de Frida) não existe sutileza. Tudo é grandiloquente, desde os suntuosos cenários até a música eloquente, com muito uso de cores, gruas, trilha incidental, boleros, erotismo soft, lágrimas e campos de girassóis. Pérolas como “eu sou o seu senhor, você é minha mulher” brotam aos borbotões e atingem os mais sensíveis.
Baseado em romance de Ángeles Mastretta, o filme se utiliza de forma desonesta a narração em off, utilizando-a somente quando percebe-se que não encontraram outra solução para conduzir a narrativa, que em geral é empolada e que avança de forma desordenada até 1947, quando finalmente Catalina consegue sua liberdade.
Arranca-me a Vida sofre ainda com uma protagonista tão piegas que é difícil torcer por ela. Talancón nitidamente se esforça e consegue convencer na passagem dos anos da personagem, mas não foge do estereótipo da mulher virtuosa romântica. Também cai na armadilha José Maria de Tavira, cujo personagem é modelo de homem, bonito, sedutor, talentoso e idealista. Um sono. Quem quem surpreende é Giménez Cacho, que consegue humanizar um personagem difícil, que tinha tudo para se tornar o vilão de máscara-e-capa-preta.
Depois de muitas reviravoltas, traições, assassinatos e o que mais de rocambolesco for, a pergunta que fica é o que sobra disso tudo? Basicamente, o clichê das narrativas latinas que continuam sendo perpetuadas.
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