Jonás Cuarón conta uma história bacana e delicada aproveitando para alfinetar alguns preconceitos sociais e o próprio fazer-cinema.
(Cobertura do Festival do Rio 2008)
É sempre agradável ver filmes de diretores estreantes que despretensiosamente trazem um frescor da autoria em construção, sem vícios que possam ser previstos. Depois de um ano fotografando todos ao seu redor o que Jonás Cuarón enxergou nas fotos lhe rendeu a idéia para o roteiro de Ano Unha, seu filme de estréia. Antes disso o nome de Jonás esteve envolvido também com a produção de E Sua Mãe Também, e por extensão ao nome de seu pai, o diretor mexicano Alfonso Cuarón.
E por mais que o cineasta deixe claro já nos créditos iniciais que se trata de ficção - com algum tanto de realidade – e de fotografias ao invés de filme, eu só me dei conta de que ele não usou a imagem em movimento quando sai da sala, tão sintonizada que esteve a montagem com o ritmo do filme, ajudando na deglutição da poética escondida nos movimentos mais lentos e às vezes caricatos de Molly (Eireann Harper) e Diego (Diego Cataño), a dupla de protagonistas do filme. Falando de sexualidade, juventude, amadurecimento e estressando o paradoxo sobre os preconceitos e os estereótipos, Cuarón demonstra que a simplicidade de uma idéia não significa contar-lhe com a utilização de clichês, mas construí-la com ferramentas diferentes, ajudando assim na construção de olhares diferentes sobre coisas já banalizadas pela convenção.
Então que em algum momento do filme você se pegará rindo da imaturidade de Diego, um garoto mexicano que no auge de seus quatorze anos tem apenas um foco de atenção: as mulheres, em especial a priminha - cujas tetinhas ele zela com muito cuidado – e assim vive uma vida tranqüila de adolescente classe média na Cidade do México. Na outra ponta da história encontramos Molly, uma universitária norte-americana que está no México estudando línguas enquanto foge um pouco das responsabilidades da vida adulta. O que nos une a eles são as divagações de ambos sobre tudo em seus mundos: a família, os amigos, os relacionamentos, as dores e os preconceitos que todos trazemos no peito, mas que só gritamos em voz alta dentro de nossa própria cabeça. E o casamento entre as imagens e as situações que elas deveriam demonstrar parecem tão naturais que ninguém duvidaria se dissessem que elas foram encenadas, e muito menos poderiam dizer que Jonás tenha feito apenas um roteiro bobinho.
Marcando o tempo com a mudança das estações e com a duração das dores de uma unha encravada de Diego, o poder do cineasta está em nos colocar como ouvintes oniscientes dos pensamentos dos dois, completando com as imagens a compreensão de que aquele episódio contado se passou como vemos.
Torçamos para que as novidades não parem por aí na carreira recém-nascida de Jonás Cuarón e que ele continue a marretar a petrificação dos conceitos dados sobre algo em prol da resignificação e alargamento de seus sentidos, e principalmente que ele continue discutindo sobre a rigidez mercadológica da forma-cinema em favor da simplicidade de idéias bem realizadas.
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