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Críticas

Cineplayers

O belo início de tudo.

8,5
Raros são os casos onde a ganância dá voz a algo legítimo e contendo personalidade, principalmente no cinema. Não se enganem, foi a ânsia por dinheiro que fez a Warner ressuscitar O Hobbit e entregar ao mundo um produto derivativo tão sem imaginação. Por isso, quando a mesma Warner anunciou que iria desengavetar a adaptação de um derivado do universo Harry Potter, um livro que nada mais é do que um guia onde são elencados um sem número de exemplares da fauna mágica do mundo criado por J. K. Rowling sem uma trama propriamente dita, o pavor deveria ter atingido a todos. Mas obviamente que não atingiu o fã, que indócil de saudades do bruxinho órfão, aplaudiu e anuiu toda decisão nessa direção. Pois bem, respiremos aliviados fãs e não-fãs: 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' é ótimo, além disso, é um filme que se justifica enquanto cinema.

É por isso, por ser autossustentável enquanto narrativa cinematográfica fluida e que recria não só apenas um universo como também justifica um desenrolar diferenciado, que no fim das contas o novo longa de David Yates se faz necessário para além de alegrar fãs e iniciados e vitaminar a seara do blockbuster em 2016. O filme também é mais uma prova do quanto a Warner tem acertado em tirar de si o poder de decisão final das produções e confiar as assinaturas dos longas aos artistas que conceberam as obras. Lógico que isso não é uma regra estabelecida, mas quando vemos um projeto que envolve bilhões de dólares mundo afora ser regido por sua autora original e seu diretor mais atuante é sinal de que algumas multi majors tem algo a aprender com eles.

Junte a isso o risco que foi confiar o star power de um produto novo a um jovem neo astro, recém erroneamente oscarizado, e dono de um talento claudicante e conseguir reverter quadros e expectativas mesmo com a ausência de versatilidade do mesmo, transformando a mise en scene, o elenco e a narrativa em torno dele em algo tão superlativo que a ele sobra pouco a fazer (ainda bem), e o que temos é um grande acerto, contra todos os prognósticos e realidades pré-filme. As presenças fulgurantes de Katherine Waterston, Colin Farrell, Alison Sudol, Samantha Morton, Ezra Miller e principalmente Dan Fogler (tão carismático e talentoso que praticamente rouba o filme pra si; percebam como isso é claro, do início ao fim), isso só pra falar do elenco, nos levam literalmente a esquecer Eddie Redmayne. Sim, o protagonista.

Mas tem mais motivos para não pensar no ator que interpreta o protagonista do filme, a começar pelo próprio personagem Newt Scamander. O trabalho de escrita e criação de Rowling é tão poderoso que o carisma de seu personagem consegue sobreviver ao ator viciado e esquemático que Redmayne. Entupido das muletas exibidas nos seus longas feitos para prêmios, o ator não difere em nada de Stephen Hawking e Lily Rabe aqui, um amálgama ruim que ainda assim não consegue manchar um filme tão rico e cheio de camadas.

A sorte do filme foi que David Yates e J. K. Rowling devem ser as pessoas que mais entendem desse lugar, e não é pra menos. Como dito acima, ele é o diretor mais próximo ao material; ela, a autora que finalmente senta na cadeira de roteirista. Sabendo que não tem nada que a prenda em matéria de trama prévia a esse novo grupo de longas (virão mais quatro, né?), Rowling está completamente sem amarras pra dar vida às situações em contexto próprio para o cinema, sem precisar condensar um calhamaço pra tela e assim, sem correr o risco de precisar deletar nada. E a imaginação dela continua prodigiosa, e nos linkando a discussões que envolvem gênero, preconceito, submissão, revolução, terrorismo, e mais tanta coisa bem-vinda e necessária para debater entre as faixas etárias mais jovens e que o filme insere de maneira suave, completamente antenada à própria mitologia e de forma abrangente para qualquer um que se disponha a ler as entrelinhas.

O trabalho conjunto de Rowling e Yates tem a ver com a criação do entorno fabular para um mundo que, em tese, já conhecemos. E poucas vezes na mitologia Harry Potter (se é que houve alguma vez) eu me deparei com cenas de tanta beleza plástica e sonora, completamente inseridas no contexto ao mesmo tempo que nos transporta para um mundo de sonho, fantasia, e também um princípio de medo e pesadelo, com excepcional uso de efeitos especiais e o eterno trabalho genial de direção de arte entregue a Stuart Craig, além da lúgubre fotografia de Phillipe Roussellot. É um conjunto de acertos bem grande que vai fazer a festa de todos que esperavam um novo capítulo da saga e também a quem queria apenas ver um filme, e ganhou de bônus beleza e relevância.

Comentários (7)

Marcelo Queiroz | terça-feira, 22 de Novembro de 2016 - 12:47

O filme começa confuso, a história demora pra engrenar e, eu pelo menos, demorei pra me situar na história. Depois, passado o caos, temos os alívios cômicos (o gordinho até garante algumas risadas), a fotografia interessante e algumas atuações no nível do tolerável. Há certa diversão nas cenas finais, quando o filme realmente empolga e fica até um pouco sombrio. Por incrível que pareça gostei da personagem do Farrell. No geral, achei que seria pior, mas até que dá pra passar o tempo, Yates não é dos pioooooresss..

Marcelo Queiroz | terça-feira, 22 de Novembro de 2016 - 12:49

O Ezra Miller tá bem também, papel bem a cara dele 😏

Luiz F. Vila Nova | quarta-feira, 23 de Novembro de 2016 - 08:23

O filme cumpriu com as minhas expectativas. A recriação de época ficou perfeita, e o universo criado aqui expande e traz novas possibilidades ao já rico universo de Harry Potter. O elenco esta bem, incluindo o perseguido Eddie Redmayne, que confere ao personagem uma ar de ingenuidade e admiração pelo novo, como uma criança. Dos coadjuvantes os destaques são Colin Farrell, Samantha Morton e Dan Fogler, que funciona como o alívio cômico da produção. As criaturas são um achado também.

Marlon Tolksdorf | quarta-feira, 23 de Novembro de 2016 - 11:39

Parei de ler em "Pois bem, respiremos aliviados fãs e não-fãs: 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' é ótimo, além disso, é um filme que se justifica enquanto cinema.".

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