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Críticas

Cineplayers

A história de um casal incomum em filme com vários problemas, mas que acaba salvo por seu elenco.

5,0

A escalação de um bom elenco pode fazer muito por um filme, principalmente quando se trata de uma comédia romântica, ainda mais se a mesma é norte-americana. O duo de atores escolhidos para interpretar o casal principal de uma produção tem grande responsabilidade, já que filmes do referido gênero são tradicionalmente centrados em tais personagens e, se a química e desempenho dos mesmos não convence, não há roteiro ou direção que faça o todo valer a sessão para seus espectadores. O Amor Pede Passagem se dá bem justamente nesse quesito: seu roteiro nada verossímil, direção apenas correta e alguns outros elementos de depreciação não tiram o mérito do filme que acaba salvo por seu elenco, principalmente pelas atuações graciosas de Steve Zahn e Jennifer Aniston.

Steve Zahn dificilmente tem seu talento dramático explorado devidamente, com raras exceções como o drama O Sobrevivente, do alemão Werner Herzog. Em O Amor Pede Passagem, ele vive o estranho Mike, que já passou dos 30 há considerável tempo e tem como profissão gerenciar o hotel de seus pais. Em uma de suas solitárias noites de trabalho ele resolve bater na porta do quarto onde se hospeda Sue, mulher de negócios por quem ele se encantou mais cedo no mesmo dia, com uma desculpa esfarrapada para tentar uma aproximação. Depois de algumas investidas ele tem sucesso: Sue, evidentemente conquistada pelo olhar carente de Mike, deixa que ele apalpe seu traseiro.

Essa aproximação pouco comum dá o tom que o relacionamento de Sue e Mike terá. Cheio de contratempos, o envolvimento de ambos começa por insistência dele, que não perde a oportunidade de importunar a vida da empresária para deixar claro que está apaixonado. O que diferencia este de diversos outros relacionamentos está no interesse de Mike, que investe o que tem (e o que não tem) em Sue já que ela ‘deu mole’ para ele, e não por um amor à primeira vista ou alguma outra razão qualquer. O Amor Pede Passagem passa a se perder, infelizmente, quando deixa de lado o apelo que o casal desenvolve para apresentar a jornada absurda de auto-descoberta de Mike.

Stephen Belber, realizador que já havia escrito episódios de diversas séries televisivas, como Third Watch e Law & Order, debuta na direção do filme, que segue um roteiro de sua autoria. Belber é feliz em trabalhar seus personagens principais e o elenco em sua produção, mas o universo que os mesmos habitam e o enfoque e desenvolvimento de sua história é pífio e inadequado. O segundo terço de seu roteiro quase coloca todo o filme a perder, uma vez que deixa de lado seu foco principal, que está em Sue e Mike, para dar ênfase nas desventuras desinteressantes do segundo, que incluem aulas de teclado, trabalho em um restaurante, pular de pára-quedas e até mesmo uma temporada num monastério budista. Outro ponto questionável é a incursão de personagens completamente descartáveis a história, como o avaliador de jóias e o amigo chinês de Mike – que até então não fazia falta na trama e em nada acrescenta à mesma.

A direção de Belber ganha pouco destaque em seu filme de estreia, sendo que a escolha pelo digital pouco tratado e pela naturalidade em luzes evoca a estética que se tornou convencional no cinema indie, fator reforçado na trilha sonora. A produção do filme é de Jennifer Aniston, que depois de O Amor Pede Passagem já se envolveu em outros dois projetos no mesmo cargo. Aniston é uma grata surpresa para admiradores ou não, já que consegue conter sua personagem e encontra o tom certo para ela - fato que vez ou outra deve ser mencionado na carreira da atriz, como nos filmes Por Um Sentido na Vida e Separados Pelo Casamento.

Management no original, no Brasil o filme acabou com o título nada criativo de O Amor Pede Passagem, confirmando a ideia de que a palavra amor é obrigatória para os filmes do gênero em nosso país. O drama agridoce acaba equilibrado entre erros e acertos e, mesmo com diversos problemas e um final bastante convencional, tem pontos positivos como o mencionado elenco em ótima sintonia, que ainda conta com Woody Harrelson e a encantadora Margo Martindale. Certamente existirão opções em exibição mais interessantes à disposição do espectador, mas, caso as mesmas já tenham sido conferidas ou descartadas, O Amor Pede Passagem é uma agradável escolha.

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