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Críticas

Cineplayers

A história de um casal contada magistralmente de trás para a frente.

8,0

Ver os filmes de François Ozon é sempre um prazer. Não há nele nenhum traço do pior cinema francês, ou seja, ou um intelectualismo arrogante e frio ou um comercialismo estereotipado, rasteiro e sem inspiração, que tanto lembra as produções brasileiras destinadas ao mercado – a última catástrofe desse tipo é O Mistério da Irmã Vap, versão povo, Um Crime Delicado, do lado dos pretensos “filmes-cabeça”.

O diretor nascido em Paris é o que podemos chamar de um autor, mas não tem um cinema enigmático, exasperante e inacessível de um Bruno Dummont (que acaba de vencer o Grande Prêmio do Júri, em Cannes, por Flandres) ou Benoît Jacquot (Os Atores), por exemplo. Tampouco resvala no cinema imbecil de um Luc Besson. É uma agradável amálgama das duas vertentes.

Seu 5 X 2 é, dentre os seus filmes, o de melhor realização na parte de decupagem, direção e roteiro, além da edição, um primor. Só não conseguiu de seus atores interpretações densas como a de Charlote Rampling em Sob a Areia e Swimming Pool. Conta a história de um casal começando pelo divórcio: quem fica com o que, os horários das visitas do único filho, a assinatura do fim do casamento. Daí em diante o filme vai retrocedendo até terminar quando eles se conheceram pela primeira vez e se apaixonaram. É um típico final feliz, mas com travo amargo: sabemos o fim da história, que é triste.

Para esse enredo cativante e funcional, Ozon destila uma técnica límpida que lembra os grandes artesões de Hollywood, o período áureo das comédias românticas da década de 60. Não há virtuosismo de câmera, nem citações desnecessárias: tudo que poderia atrapalhar o andamento da trama é eliminado, num imenso esforço de parecer o mais simples possível.

Tanto que a trilha sonora traz músicas italianas lacrimejantes que falam de amores destruídos, sentimentos hiperbólicos, enormes dores-de-cotovelo, derramadas declarações de amor. São usadas com parcimônia e elegância, de forma que soam como discretos comentários irônicos.

Sim, seus outros filmes eram mais ambiciosos e de realização mais difícil, pelo menos na aparência, como o sucesso Gotas D’água em Pedras Escaldantes, que Ozon adaptou de uma peça de Rainer Werner Fassbinder. A audácia aqui não está nas estéreis maquinações virtuosísticas, mas em contar uma história de amor da maneira mais funcional possível. Se fosse fácil, todos fariam, o que não é, em definitivo, o caso.

Pela humildade, ponto para François Ozon.

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