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Amante por um Dia

(L'amant d'un Jour, 2017)
7,5
Média
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Críticas

Cineplayers

O cinema apaixonado.

8,5
Philippe Garrel começou a fazer cinema nos anos 1960, em plena efervescência da nouvelle vague francesa, mas diferente da maioria de seus contemporâneos, permaneceu dentro de um mesmo modus operanti e tratando de temas recorrentes, sem jamais fugir muito daquele universo que procurava retratar desde seus primeiros filmes. Mais do que apenas se manter dentro de seu cinema inaugural, Garrel também permaneceu ao longo dos anos um verdadeiro apaixonado pelo ofício, acreditando no cinema como uma manifestação de carinho e amor. No universo imaculado de Garrel, que sobreviveu ao cinismo das eras e à desilusão do cinema europeu cada vez mais pessimista, o preto e branco ainda existe como recurso estético romântico, as trilhas sonoras são emocionais e os personagens acreditam piamente no amor. 

Assim como em O Ciúme (La Jalousie, 2013) e À Sombra de Duas Mulheres (L’Ombre des Femmes, 2015), seus dois últimos trabalhos, o diretor retorna agora com um tipo de encerramento para uma trilogia não intencional com Amante por um Dia (L’amant d’un Jour, 2017). Nos três filmes ele aborda a influência de uma terceira pessoa em uma relação a dois e como tudo se altera a partir disso. Desta vez temos um professor de meia idade que namora e mora junto com uma de suas alunas, e se vê obrigado a acolher sua filha quando ela é abandonada pelo noivo. Aos poucos, Garrel se infiltrará na relação curiosa entre os três personagens, mas ao mesmo tempo manterá um interesse paralelo na relação deles quando em duplas e sob a ausência de alguma parte do triângulo, explorando temas e ideias diferentes dependendo da combinação pai-filha, professor-amante, filha-amante. 
Cada personagem sofre em algum nível com a insegurança gerada pelo amor e com a busca de uma liberdade pessoal que não condiz com a estrutura tradicional de uma relação a dois, monogâmica. O professor e a aluna tentam manter uma relação aberta, mas são ciumentos e inseguros demais para isso. A filha não consegue aceitar o fim de seu noivado e procura entender onde errou para ter perdido tão subitamente o interesse de seu ex. A aluna procura ajudar e dar apoio à filha em sinal de irmandade e empatia, de modo que ambas se tornam muito próximas e complementares na visão sobre o amor e o sexo, pois enquanto a aluna encara o sexo como algo a se praticar conforme a vontade e o interesse despertado pelos homens ao redor, a filha acredita na ideia de sexo apaixonado e fiel a uma só pessoa. A figura masculina do pai/professor nesse meio é só confusão, crise, insegurança, refletindo também sua experiência de vida muito mais vasta e complicada do que a das duas jovens. 

Em Amante por um Dia todos querem o amor, mas também querem a liberdade, e nem sempre é possível conciliar os dois. Garrel explora essas confusões sempre sob uma ótica positiva e romântica, tecendo aos poucos a delicadeza dessas nuances através do carinho de sua câmera pelos atores/personagens. Muito sensível, procura captar quase que o tempo todo a incidência de palavras, ações, luzes, sombras, sons e toques sobre o rostos/reações de cada um deles. Cada momento, por mais cotidiano que seja, pesa de alguma forma sobre o trio e o altera, o evolui. Se o amor é tão difícil de ser achado, mantido, respeitado, é em ações inusitadas e inesperadas que ele de fato de manifesta em toda sua intensidade e calor, como na belíssima cena da dança com a aluna e a filha, em que Garrel procura captar cada vez mais próximo delas o prazer do toque, do descobrimento, do entrosamento de corpos e rostos. 

E apesar de todas as desilusões e rompimentos próprios de qualquer filme sobre relacionamentos, Garrel permanece o tempo todo o otimista e romântico que é desde os anos 1960. Para o amor que nem sempre dá certo entre as pessoas, existe o cinema acreditando nele mesmo em sua efemeridade e eventual dor. Porque se muitas vezes o amor e a liberdade individual parecem impossíveis de se conciliar, sob a lente de Garrel eles também podem parecer surpreendentemente inerentes. 

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