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Alva

(Alva, 2019)
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Críticas

Cineplayers

Uma fuga minimalista

6,0

A multiplicidade de vozes do cinema português parece não conhecer limites, e Alva (2019), primeiro longa-metragem assinado por Ico Costa, nome artístico de Frederico Costa, diretor nascido em 1983 e curta-metragista desde 2012, figura como exemplo de uma filmografia de artistas que compõem um painel marcadamente diverso. 

E no caso, seu trabalho parece reconhecer a influência que o(s) cinema(s) de seu país exerce sobre a filmografia mundial, já que parece dialogar com a captura do real em forma de ficção desenhada por Pedro Costa, em filmes como Ossos (1997): estão aqui uma simpliciade formal brutalmente objetiva que registra planos abertos, longos e contemplativos e uma história de temática social propositadamente elíptica. 

A história de um homem que após perder os filhos, mata a psicóloga responsável por julgá-lo incapaz de cuidar deles e foge para a floresta para não ser encontrado pela polícia, é um filme esvaziado ao máximo com uma história contada ao mínimo. Uma tour-de-force de minimalismo, um mar de silêncios esticados por quase uma hora e quarenta cortada ocasionalmente por resmungos e a respiração sempre ofegante do protagonista.

De início, Ico Costa consegue causar certa impressão com uma atmosfera sombria, suja e opressiva, mostrando o dia-a-dia do protagonista trabalhando e cuidando de sua casa bagunçada e após isso, sua dificuldade em atravessar ambientes inóspitos conseguindo comida do chão e apresentando uma aparência cada vez mais deplorável.

Porém, o filme se perde em algum lugar do caminho: uma hora ou outra, ele pode despertar uma impressão de que não chegará em lugar nenhum e, realmente, não chega. Ainda que o protagonista sofra uma interessante transformação física do que vimos no início que marca seu retorno à civilização, o diretor não explora muito o peso simbólico que tal decisão acarreta e preferiu deixar tudo ao ar: não misterioso, mas aberto. 

Assim, em uma linha de história perfeitamente compreensível, que evita quaisquer didatismos ou subjetividade, Ico se preocupa apenas em registrar o que é concreto e deixar o sensível para interpretações de quem vê. Quase como se a narrativa fosse apenas uma sinopse e nós fôssemos os responsáveis por julgar o que aquele homem está pensando ou como outros reagem ao seu crime. Mas como a preocupação é quase exclusiva na abordagem do protagonista em lidar com os obstáculos de seu ambiente, não há muita variação e o filme se arrasta. A última cena, ainda que interessante ao se descolar de seu personagem transformado mas ainda silencioso, parece pouco para um filme que se dispôs mais a andar em círculos, evitando grandes composições formais, parecendo acreditar que isso trairia o conceito da obra, mas transformando a mesma em uma experiência simplesmente redundante, no final das contas.

Crítica da cobertura do 21º Festival do Rio

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