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Críticas

Cineplayers

Divertido e ao mesmo tempo angustiante, Alpha Dog é um bom trabalho sobre efeitos negativos das drogas (diretos ou indiretos).

7,0

Alpha Dog é mais uma investida na indústria do cinema norte-americano que tem por objetivo tentar enegrecer a imagem das drogas. Através de uma história baseada em fatos reais (porém os produtores, por questões legais, tiveram que alterar o nome dos personagens em relação às pessoas verdadeiras), acompanhamos vários atos ilícitos de jovens drogados que consideram tudo isso “divertido” e “normal”. O filme narra o caso do seqüestro de um jovem irmão de um traficante que devia dinheiro a outra pessoa de má influência. O seqüestro não foi premeditado e foi levado como uma brincadeira no começo, porém aos poucos, no meio de tantas festas e drogas, as coisas foram ficando complicadas.

Na realidade, Alpha Dog é um bom retrato da futilidade da classe média norte-americana, que se acaba refletindo em nossa classe média (pois esta copia quase tudo dos americanos): drogas, bebidas e sexo na adolescência são o único objetivo dessas pessoas, e os acontecimentos que o filme mostra são um exemplo de que, às vezes, isso pode terminar muito mal. A linha narrativa do filme aprofunda-se no caso do seqüestro de forma perfeitamente dramática, pois no início tudo é engraçado e divertido, mesmo para o seqüestrado, que devido ao fato de seus seqüestradores serem “gente boa”, leva tudo como uma divertida aventura. Aos poucos, o roteiro dá pistas ao espectador do final que tudo pode levar, de forma cada vez mais tensa e interessante.

Talvez o único ponto negativo a ser destacado com relação ao roteiro seja o fato de que ele peca por glorificar demasiadamente o estilo de vida daqueles adolescentes descerebrados: drogas e sexo acontecem abertamente, e todos parecem gostar daquilo, ainda que sob efeitos alucinógenos. Mesmo que ao final vejamos algumas conseqüências negativas, tudo poderia ter sido exibido de forma mais suja, para a mensagem ser passada de forma mais aberta (às vezes só assim para o espectador assimilar bem). Apesar dos perigos de viver sempre além dos limites da lei, garanto que muitos gostariam disso em troca do que é mostrado pelo filme. Trabalhos mais respeitados sobre o tema (Réquiem para um Sonho e A Sombra de um Homem, por exemplo) proporcionaram essa atmosfera mais poluída, e com resultados muito interessantes.

A direção de Nick Cassavetes é conivente com uma montagem cheia de perfumaria, muitas vezes desnecessária: a divisão da tela em frames múltiplos que na maioria das vezes não adicionam nenhuma informação visual (pois são repetitivos ou redundantes) é algo que poderia ter sido evitado. Não chega a ser irritante. Porém há toques interessantes, como a contagem das testemunhas que viram de alguma forma o seqüestro, que aparece no canto do frame. Para quem não tem idéia do que vai acontecer, esse detalhe torna tudo mais misterioso e interessante.

O filme é basicamente sobre adolescentes e, enquanto eles fazem um trabalho decente mas não destacável, há um núcleo adulto com atores experientes, que inclui Bruce Willis (em papel relâmpago, mas interessante) e uma Sharon Stone em certo momento irreconhecivelmente gorda sob uma maquiagem pesadíssima.  Nesse ponto, o overacting (exagero na atuação) é notável. No geral, não é um filme de grandes atuações, mas elas são boas o suficiente para trazer qualidade ao roteiro, que é o melhor ponto do filme.

A questão é: tentando apresentar mais um exemplo negativo do uso das drogas, o filme atinge seu objetivo? Definitivamente sim para espectadores de cabeça aberta. Não é tão enfático quanto os filmes citados acima, mas seu final é simplesmente aterrador, e compensa o excesso de futilidades mostradas até ali (festas, brigas e discussões vazias entre pessoas vazias).  Além disso, Cassavetes soube ritmar bem o filme, transformando-o em um trabalho divertido e ao mesmo tempo angustiante. Por causa disso, principalmente, não posso fazer outra coisa senão recomendá-lo.

Comentários (1)

Pedro Henrique | domingo, 29 de Dezembro de 2013 - 23:36

Ñ sabia nada sobre o filme, mas a contagem de vítimas desde o início deixou claro o desfecho da história, e justamente isso me angustiou durante todo o filme.

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