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Críticas

Cineplayers

Na busca pelo naturalismo, Di Gregorio apresenta a insipidez.

4,0

Existem muitas histórias para serem contadas. Existem, também, diferentes formas de compartilhar essas histórias. Isto pode, por exemplo, ser feito verbalmente, tomando um cafézinho na padaria do bairro, ou cinematograficamente, através de um filme. Em Almoço em Agosto, Gianni Di Gregorio parte em busca de uma aproximação extrema entre estes dois meios, a vida real e a realidade cinematográfica, através de um naturalismo imposto por planos, gestos e olhares que constrói um filme que aparenta ostentar como um troféu a total ausência de composição cênica, de teatralidade, de caricaturalismo e de manipulação narrativa.

Giovanni, protagonista que o próprio Gianni Di Gregorio fez questão de interpretar, é um desses casos de personagem que cairia muito bem em uma lorota de final de tarde ali na esquina. Porém, apenas por ser quem é e fazer o que faz, como pretende apresentar Gregorio ao longo dos poucos mais de 70 minutos deste Almoço em Agosto, não desperta o menor dos interesses em um filme. Quanto mais neste, uma comédia que tenta fazer do humor um elemento natural da ação sem que esta ação seja minimamente trabalhada para permitir lugar e, especialmente, compreensão a ele.

O filme acompanha o mês de agosto, popular momento de festas na Itália, país de origem do filme, de um homem relativamente perdido na vida, cinqüentão e solteiro sem qualquer perspectiva de vida, de emprego ou de mulheres. O homem, que conta com dívidas em todo canto da cidade, ainda mora com a mãe, já bastante idosa. Além de fazer suas vontades e sustentar a casa apenas com o dinheiro de sua aposentadoria, também precisa cozinhar e cuidar – geralmente no que diz respeito à gastronomia - de algumas senhoras que visitam-na diariamente, transformando-se em uma espécie de babá de idosos.

Pode-se perceber algumas deixas para uma avalanche de humor fácil nesta história contada por Almoço em Agosto, mas a preocupação do diretor em manter-se longe de qualquer uma delas é tão intensa que faz com que fuja não apenas desta vulgarização do humor, mas do próprio humor. Não existe sequer uma piada que não esteja simplesmente na descoberta destes fatos básicos da história de Giovanni, com exceção de um pequeno momento de interesse cômico com o inesperado ataque ninfomaníaco de uma senhora. De resto, acompanhamos lentamente, através de planos longos que geralmente duram tanto quanto a ação – sempre curta, em pequenos fragmentos que vão apresentando gradativamente as características do protagonista  - estes fatos decorrendo em tempo real e sem intervenções de diretor ou de qualquer outra pessoa, seja no posicionamento da câmera e da luz ou na determinação de um corte.

E é assim que o filme funciona, ou deixa de funcionar, até seu final, quando ficamos com a impressão de ter acompanhado um dia inteiro do pay-per-view de um Big Brother da terceira idade sem qualquer personagem ou atividade interessante, onde todos apenas comem, caminham – lentamente, é claro - e dormem. Se é desta maneira que Di Gregorio pretende estudar a velhice e suas vidas em relação à cultura de seu meio social ou contar uma história simples da vida real através de um personagem inusitado - mas que parece nem mesmo ter consciência de onde está posicionada a câmera que o capta - seria interessante dar uma olhadinha em McCarey e Cukor – ou mesmo em Moretti, com quem poderia trocar umas palavrinhas num bar de esquina da Itália.

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