Tenho como costume resenhar filmes de uma perspectiva mais pessoal, sobre o que ainda não me convenci se é preferível ou não, porém não saberia fazer diferente. Não que eu tenha tentado antes, mas quando um filme se comunica comigo da maneira como Alive (idem, 2020) se comunicou, eu apenas permito que as palavras viajem de qualquer lugar dentro do meu corpo para um papel em branco. Jimmy Olsson, que estudou cinema e vive atualmente na cidade de Estocolmo, Suécia, escreveu e dirigiu com sucesso muitos curtas-metragens, alguns premiados como 2nd Class (idem, 2018), que está sendo adaptado para um longa-metragem, e o próprio Alive, lançado em janeiro no Festival Internacional de Cinema de Gotemburgo.
Eu acredito firmemente que a única maneira de se ter sucesso ao contar uma história é usando o afeto como linguagem, e Jimmy sabe o que está fazendo ao nos apresentar uma história muito humana e afetuosa. Alive retrata a história de Victoria (Eva Johansson), que sofre de danos cerebrais e está em uma cadeira de rodas. Ela deseja sentir o que sua cuidadora Ida (Madeleine Martin) tem com seu namorado, sem as limitações de uma pessoa deficiente. "Você está apaixonada por ele?", pergunta ela. Ida, por outro lado, responde com franqueza e maturidade.
Embora o filme pareça ser sobre Victoria e sua condição, Alive é mais delicado que isso. É sobre companheirismo e lealdade, do tipo que se vê em Intocáveis (Intouchables, 2011) filme dirigido por Olivier Nakache e Éric Toledano sobre um cuidador que está lá não só para fazer seu trabalho, mas também para ser uma pessoa real com sentimentos honestos. "O quero emprestado", diz Victoria sobre o namorado de Ida. Ela parece não acreditar que também poderia ser amada devido à sua condição. É quando Ida traz à tona a idéia de criar um perfil no Tinder para provar que ela está errada.
O plot twist surge quando o perfil criado para Victoria dá resultado e começa a assustar Ida, quando Victoria pede que ela fique sozinha com o seu par em seu primeiro encontro. Será que Ida irá concordar em deixá-los sozinhos? Embora Victoria seja uma adulta, seu encontro é com um estranho que Ida julga como um "cara assustador". Apesar do julgamento sobre a aparência do homem, Ida apenas se preocupa com Victoria. E se algo de ruim acontecer com ela? E se o homem não aparecer e ferir os sentimentos dela? A única maneira de descobrir é assistindo ao filme. Eu só posso garantir que no final você irá compartilhar do mesmo sentimento de Victoria: um desejo de sentir-se viva.
Cada ator no filme interpreta seus papéis com delicadeza e consciência. A iluminação natural compõe a cinematografia com realismo, assim como os diálogos são orgânicos. É verdade o que tanto Eva quanto Madeleine trazem à tona quando atuam, juntamente com a forma como o diretor as conduz. Toda a honestidade é irretocável, na narrativa, na estética, na humanidade. É a montagem comparando as duas realidades entre uma pessoa não deficiente e uma pessoa deficiente, com empatia. Trata-se de não ser indiferente quando tantas pessoas o são. É também sobre se importar com o próximo em um mundo onde apenas poucas pessoas o fazem. No final, uma surpresa sublime.
Em tempos como estes, quando temos que ficar em casa e manter-nos em autoisolamento, não só por causa da nossa saúde, mas também por causa da saúde do próximo, devemos levar mensagens como essa de Jimmy mais a sério. Este é um pequeno filme com uma mensagem imensa. É sobre empatia e a capacidade de amar e se importar com o próximo que nós perdemos. Victoria quer sentir-se viva, e todos nós somos muito parecidos com ela. Cada um de nós queremos nos sentir vivos.
Excelente crítica, bastante fluída e informativa. Estou ansioso para assistir esse curta e acompanhar mais trabalhos desse diretor.
Adorei a crítica!!! Fiquei com vontade de assistir o filme.
Esse breve relato sobre o filme me instigou a querer assisti-lo. É um universo diferente, confesso, visto que não assisti até hj nenhum outro filme com enredo parecido, e sim, vou assistir. Por mais críticas assim, que provoque a curiosidade de quem a lê.