Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Um filme grotesco, que pode ser recomendado pela tensão de seu ato final.

7,0

Violência no cinema já não choca mais tanto quanto antigamente. Por isso cada vez mais e mais filmes repletos de sangue e gratuidades no assunto chegam a um nível mais e mais escandaloso. Se na era do cinema preto-e-branco Hitchcock amedrontou platéias ao mostrar um pouco de sangue escorrendo juntamente com a água do chuveiro – e isso era realmente aterrorizante – hoje em dia no mínimo deve-se mostrar vísceras e olhos saltando do crânio para ter um efeito parecido. O Albergue vem na modinha de Jogos Mortais, que encantou e deixou platéias tensas com suas cenas macabras de sangue e violência. Aqui, não surpreendentemente, é tudo ainda mais gratuito – mas o filme vence em um importante ponto: consegue ser muito mais tenso.

Temos nesse filme uma variação bem mais grotesca do sub-gênero de terror “adolescentes descerebrados se dando mal”. Um grupinho de mochileiros atrás de sexo na Europa acaba indo parar em um pequeno país por indicação de um “amigo”. O que eles não sabiam é que estavam prestes a entrar em uma armadilha mortal, e seriam utilizados para satisfazer os desejos sanguinários de um grupo de riquinhos, cuja principal diversão é a tortura (por quaisquer instrumentos que se possa imaginar) seguida de morte, ao gosto do freguês. O filme não guarda purismos ao exibir sexo quase explícito e muito sangue – um nível tão grande ou maior do que do “concorrente” Jogos Mortais.

Ninguém precisa de um filme como esses. E também seria perigoso chamá-lo de diversão descompromissada. Puxa, será mesmo divertido ver alguém decepado ou tento os olhos arrancados em prol de diversão própria? No cinema, tudo é válido? São questões quase morais, que não cabe à crítica cinematográfica responder. A verdade é que o filme foi produzido para chocar, e ainda que não seja o trabalho mais violento já visto no cinema (há toda espécie de filmes underground muito piores) ele pode nos colocar dúvidas na cabeça em relação à direção que Hollywood está nos levando: esse filme foi altamente comercializado, e orgulhosamente estampou que era uma produção do famigerado diretor Quentin Tarantino. Será esse o padrão mínimo de violência em cinco anos ou menos?

As atrocidades exibidas durante o filme são sua principal moeda de venda, porém fiquei mais excitado com a tensão que o diretor Eli Roth proporcionou. A fuga de uma das vítimas do antro da morte, no ato final, é digna de um grande diretor. Há uma combinação de elementos que podem fazer o espectador ter as unhas acabadas (veja bem, não é “arrancadas” ou “mutiladas”) quando os créditos subirem na tela. Estranho notar que é nesse momento que inúmeros convencialismos hollywoodianos quase põem tudo a perder, com forçadas de barra e problemas de continuidade graves, mas que podem ser relevados pela tensão proporcionada pela seqüência. A trilha sonora caprichada ajuda nesse momento, acrescentando tensão e sabendo o momento que deve ficar em segundo plano.

A parte técnica mostra uma fotografia que ajudou muito a montar o clima de terror: o leste europeu já é nublado por si só, e a iluminação ainda conseguiu acrescentar um aspecto macabro aos sets de filmagem, podendo trazer uma sensação constante de desconforto ao espectador. As atuações dos jovens atores merecem ser citadas: ainda que não seja este um gênero do cinema para se mostrar um bom trabalho, não terem estragado tudo com exageros e caricaturas estereotipadas já faz delas um ponto positivo. Não há um super mocinho e, felizmente, ainda que sejam todos eles adolescentes retardados, conseguiu-se manter esse ponto em um nível que não os fizesse personagens detestáveis e merecedores da morte.

Há 10 anos eu diria que O Albergue é um filme para poucos; há cinco anos eu diria que é para quem tem estômago muito forte. Hoje em dia esse tipo de terror e o conteúdo mostrado ainda é bizarro o suficiente para não transformá-lo numa sessão para a família, pois ainda exige um estômago preparado. Mas posso recomendá-lo sem ressalvas para quem gosta do gênero. Se é um filme gratuito? Certamente que sim. Isso o transforma em um filme ruim? De forma alguma: a tensão apresentada, a fotografia nebulosa e as cenas “interessantes” transformam o filme em um acontecimento acima da média no gênero atual. O Albergue 2 já vai ser lançado ainda este ano, esperemos que não tome o rumo preguiçoso de Jogos Mortais 2, que apenas repetiu a mesma fórmula do primeiro filme, piorando-a.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | sexta-feira, 22 de Novembro de 2013 - 15:42

A cena do maçarico é uma das mais fortes da atualidade. Vale à pena, mas fica muito enjoativo se assistido mais de uma vez.

Faça login para comentar.