Um novo filme do Tarantino estreando no país e expectativa é pouco. Youtube cheio dos chamados ‘trailers falsos’ (procure por Don’t e Machete) deixam todo mundo mais curioso.
Três anos pensando lhe deram muito gás, apesar de achar que ele tem todas as idéias e as referências prontas, não só para esse como para mais uns muitos filmes. E é delicioso sentar pra descobrir o autor da obra em cada diálogo. O filme tem a mão dele em tudo. Trás todos os ingredientes que associamos ao cinema de Quentin Tarantino: mulheres bonitas; mulheres fortes; atores desconhecidos ou esquecidos; danças sensuais; mistério; músicas norte-americanas que tocam (apenas) em rádios do Tennessee ou do Arkansas; sangue; carne; e referências a clássicos, que de tão clássicos, só ele viu, nos tempos em que trabalhava na tal videolocadora. E dessa vez, uma novidade: os dublês são os personagens principais. Quer mais metafilme que isso?
NÃO LEIA A PARTIR DAQUI SE NÃO HOUVER VISTO O FILME
À Prova de Morte começa com uma daquelas seqüências em que acompanhamos uma mulher em seu caminhar despreocupadamente meticuloso; cadeiras requebram prum lado e pro outro. Não perca as pernas da moça de vista! Jungle Julia (Sidney Tamiia Poitier, a filha do Sidney), famosa por trabalhar na rádio mais bacana da cidade, está recebendo a visita de sua amiga Arlene (Vanessa Ferlito) e a envolve em uma brincadeira inocente, que depois se mostrará perigosa: anuncia em seu programa a visita dessa bela jovem, a quem chama Butterfly e desafia aquele ouvinte que, reconhecendo-a sem a conhecer, lhe recitará um poema. O prêmio: Butterfly dançará uma música de sua escolha!
As moças estão mesmo dispostas a curtir o reencontro, bebendo bem, no pior boteco da cidade, cujo barman é o próprio Quentin. Dizem que a JunkieBox é ótima e pertence ao acervo pessoal do diretor! No meio do caminho, cruzam à frente de Stuntman Mike (Kurt Russel), que como o próprio codinome sugere, já foi dublê de filmes famosos nas grindhouses de outrora. Triste é ninguém lembrar desses filmes, quanto mais de seus dublês.
O problema é que ele sofre de algum tipo de abstinência de perigo e desenvolveu uma tara deveras estranha: adora ver (e pôr) mulheres em risco. Seus gritos talvez sejam o ápice para ele. As meninas, depois da bebedeira, seguem pra uma festa do pijama with lasers. Stuntman Mike segue logo atrás...
Tempos depois, Stuntman Mike cruza novamente com belas moças em um carro. (Coincidência 1.) Um trio de amigas (Rosario Dawson; Tracie Thoms; Mary Elisabeth Winstead) presas em uma cidade do interior norte-americano devido ao fato de estarem trabalhando na realização de um filme, param em uma lanchonete de beira de estrada, antes de seguir para pegar uma quarta amiga (Zoe Bell, no papel dela mesma) que está chegando para uma visita. (Coincidência 2). Detalhe: os diálogos das quatro são os mais afinados e divertidos.
Nós e Stuntman Mike seguimos a conversação das amigas sem que elas notem, ficando elas então livres para serem elas mesmas, gesticulando e contando histórias da amizade antiga. Lá pelas tantas, Zoe revela o que tem programado para a visita: dirigir a toda velocidade um Dodge Challenger, 1970. Mas não qualquer um: algum com um motor 440. Como em Vanishing Point em que Kowalski dirige um carro assim.
Depois de muita confusão pra enganar um cara (que acho que é o Eli Roth de O Albergue) pra conseguir pegar o bendito Dodge e dar uma volta, elas acreditam que tudo corre como planejado. Mas Stuntman Mike segue logo atrás. Aliás, o que segue é uma seqüência de perseguição incrível. E uma dublê que pode ser dublê sem precisar esconder o rosto.
Uma bela catarse final, de bracinhos levantados de alegria selam um dos últimos filmes feitos para mexerem com o corpo do espectador.
Destaco também os maneirismos imitando falhas de projeção, queimaduras e mais queimaduras de cigarros na tela (pra citar Tyler Durden), tudo pra nos ambientarmos em uma sala dos anos 70. E o golpe final, de perna, arremata com classe uma classuda homenagem ao cinema b e às origens cinéfilas de Tarantino
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