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A Criança do Inverno

(L'enfant de l'hiver, 1989)
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Críticas

Cineplayers

Obsessão

8,5

A Criança do Inverno é o segundo longa-metragem da carreira de Olivier Assayas. Apesar de jovem, o diretor já demonstrava um excelente domínio da execução cinematográfica ao conseguir compor personagens tão intensos e, ao mesmo tempo, tão misteriosos. São quatro os protagonistas do filme: Stephane, Natalia, Sabine e Bruno. E esse grupo forma três casais: Stephane e Natalia, Sabine e Bruno e Stephane e Sabine.

No entanto, não é o caso de Stephane e Sabine estarem desgostosos em seus relacionamentos, com intenção de terminá-los ou qualquer coisa parecida. Pelo contrário, os dois têm sentimentos obsessivos por seus parceiros, a ponto de cometerem loucuras para manter os relacionamentos, como se necessitassem de constante atenção e não pudessem aceitar que seus namorados tivessem a possibilidade de fazer exatamente o que eles fazem. Nesse sentido, esses dois não fazem nada certo, pois sempre agem por impulso, se excedem, tentam consertar o erro anterior, mas sempre de forma tresloucada e cada vez mais afastam aquelas pessoas que amam ou melhor, pelas quais são obcecadas. 

É impossível imaginar quais serão as ações de Stephane e Sabine, eles sempre surpreendem de alguma forma. Um dos melhores momentos de A Criança de Inverno é a sequência em que os dois viajam juntos para o campo. Assayas consegue extrair tensão de momentos simples, como de uma conversa na mata com o canto de passarinhos ao fundo. Em uma situação comum, esse seria um momento tranquilo, relaxante até. Contudo, com Sthepane e Sabine, as tensões podem ebulir a qualquer momento e sem motivo aparente e uma conversa afável tornarse uma briga com ameaças de morte e similares.

A grande qualidade de Assayas é não oferecer espaço para que Stephane e Sabine sejam dissecados pelo público, mantendo os mistérios que eles oferecem até o fim. Diante dessa situação, o sofrimento de Natalia e Bruno é quase palpável, pois possuem imensa dificuldade de interpretar as atitudes de seus companheiros. As tintas acinzentadas do céu invernal dão maior intensidade ao frio francês de gelar os ossos e às atitudes das pessoas, que podem ser tão arrepiantes quanto o inverno.

Se a ideia de “inverno” que faz parte do título do filme não é metafórica, a ideia de “criança” também não é. Desde o início, sabe-se que Natalia está grávida de Stephane, que a maltrata mesmo estando próxima de dar à luz. A criança é rejeitada a ponto da mãe sentirse obrigada a não registrar Stephane como pai. 

Entretanto, a revelação do nome da criança no final do filme abre espaço para novas interpretações e para que o público se interrogue como as relações obsessivas podem ser menos óbvias do que aparentam em um primeiro momento. E os mistérios que permeiam as os relacionamentos permanecem insolúveis ao fim da projeção. As relações humanas são um tema que Olivier Assayas irá trabalhar ao longo de sua obra, mas cujo domínio já demonstrava desde o início de sua carreira.

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