Um filme representativo sobre a família e a relação com o lugar em que ocupam.
No primeiro plano de 35 Doses de Rum, temos em cena Joséphine (Mati Diop) andando em volta do trilhos de trem. Este movimento relata muito bem o cotidiano das personagens apresentadas, em que vivem por transitar, mesmo que sem realmente por muito esforço nesta ação, e mais importante, estar sempre à margem, nunca entrando de fato nos “trilhos do mundo”, por mais que tentem seguir em uma linha que para eles se apresenta reta.
Joséphine mora com o pai (Alex Descas), no subúrbio de Paris, enquanto começa um relacionamento com o vizinho Noé (Grégorie Colin) e ainda sofre a companhia da aparentemente única amiga da família, a taxista Gabrielle (Nicole Dogue). Noé e Gabrielle seguem tentando se integrar à aparente estabilidade do núcleo familiar, mas como nos melhores filmes de Ozu, vemos que aquilo ali é um conflito silencioso cheio.
Sim, a filha precisa sair de casa, viver sua própria vida. Mas Noé talvez seja um tanto radical, viajando de país em país e quase nunca parando em casa. Sofrer pela falta ou pelo excesso? Claire Denis nos apresenta esta questão, a partir do ângulo de Joséphine, que parece completamente perdida neste momento de bifurcação de sua vida.
Desde o início, as imagens da cidade apresentam um papel fundamental na trajetória do filme. Além das duas personagens do filme terem profissões relacionadas a transportes (o pai é condutor de trem), é dada uma importância grande às paisagens, e situações que ocorrem por onde as personagens passam. Em especial no começo do filme, as cenas do subúrbio parisiense são muito lindas, criando uma sensação de aproximação entre personagens e espectadores. Tudo isso é complementada por uma fabulosa trilha do Tindersticks.
Este filme é uma boa maneira de se aproximar do cinema de Claire Denis. Ela faz um filme ao mesmo tempo simples e tranqüilo, mas também bem representativo sobre relações familiares e com o lugar em que estas ocupam.
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