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Críticas

Cineplayers

Um filme que possui boas qualidades. Se analisado por si só, é uma ótima experiência cinematográfica.

7,0

Não é fácil para alguém que quer preservar seu respeito como editor de uma publicação sobre cinema (se é que tenho algum) elogiar 2010 – a seqüência para a obra-prima máxima de Stanley Kubrick. Alguns considerarão isso um sacrilégio, mas devo confessar que este é sim um bom trabalho, um complemento sólido à complexa obra de um dos melhores diretores que o mundo já viu. O filme é desnecessário? Sim! O filme é tecnicamente inferior? Sim! O filme é artisticamente inferior? Definitivamente! O filme é ruim? Em absoluto!

De todos os problemas citados no primeiro parágrafo, o maior deles é o fato do filme ser um trabalho totalmente desnecessário. Quem precisaria de uma seqüência pra 2001, visto que seu charme, ou ao menos parte dele, reside no fato de muitas questões ficarem em aberto? Os mistérios de um roteiro dualista trouxeram fama e paixão à obra de Kubrick, que é ovacionada por amantes do cinema até hoje. Quais os motivos que alteraram o comportamento de HAL? O que eram exatamente os monolitos? O que houve com o Dr. Dave Bowman no final de “2001”? “2010” explica, de forma razoável, essas questões.

É um filme muito mais claro em seus objetivos, menos misterioso. Sem a pretensão de criar um quebra-cabeças complexo tal como Kubrick, o irregular diretor Peter Hyams (muitos consideram este seu melhor filme) parte para o lado mais humano de seus personagens. Dá famílias e cria conflitos bem comuns a eles, o que acaba, claro, desviando a atenção, em muitos momentos, da história do monolito e do que realmente aconteceu com a Discovery e sua tripulação em 2001. Isso não é necessariamente bom, visto que esses tipos de situações já são deveras comuns em dramas ordinários, e aqui elas nunca são realmente bem desenvolvidas. O filho do Dr. Floyd (Roy Scheider), por exemplo, poderia não existir que não faria diferença na história.

Mas acabemos com as comparações por aqui, tentando julgar o filme pelo que ele é. Por si só, 2010 ainda é um filme de ficção-científica muito bom. É divertido, coloca questões interessantes ao espectador, fazendo-nos pensar sobre nossa própria existência. Pode nos voltar a fazer sonhar sobre a conquista do espaço e o que isso representa para o ser humano. E mesmo não precisando ter doutorado nenhum para desvendar seus mistérios, ainda deixa algumas questões em aberto para quem gosta de um trabalho um pouco mais cerebral. O final é particularmente bonito, passando uma mensagem de motivação para o futuro da humanidade (embora seja muito clichê). Vale lembrar que o filme foi feito na época da Guerra Fria entre Estados Unidos e U.R.S.S., e o filme insiste bastante nesse conflito.

HAL continua um capítulo à parte. Conhecemos seu desenvolvedor, conhecemos (como já foi comentado) os motivos que levaram ele a tomar as atitudes que tomou em 2001. Pode ser decepcionante para muitos fãs do filme de Kubrick, mas por outro lado a explicação lógica dada é bastante satisfatória. Uma analogia com o cinema mais moderno poderia ser feito com a série Matrix: as respostas dadas por Reloaded e Revolutions acabaram tirando um pouco do charme do filme original e, sendo assim, pelo menos posso entender a irritação de quem detesta esta seqüência, embora não concorde com essas pessoas.

Mesmo tendo sido produzido 16 anos depois, o filme consegue ser levemente inferior tecnicamente ao seu original. Isso não é necessariamente demérito de Peter Hyams e sua equipe, e sim indica o nível técnico de perfeição que Kubrick alcançou em 1968. Ainda assim, 2010 é um filme bonito, com imagens de bastante destaque. Enfim, um trabalho que deve ser visto com ressalvas para os fanáticos por Kubrick, e como uma boa curiosidade para quem gosta do gênero. Um trabalho com mais qualidades do que defeitos que, se não fosse filho de quem fosse, seria hoje muito melhor visto. Mais do que recomendado.

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