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Críticas

Cineplayers

Até quando veremos biografias que não acrescentam nada ao cinema?

4,0

Após uma enxurrada de biografias sem nenhum rigor técnico ou narrativo, ou só com uma coisa ou outra, era chegada a hora de algo mais substancioso na hora de contar uma história real, um decoro narrativo e uma inventividade cênica que trouxesse frescor a um gênero tão cambaleante. Infelizmente se a hora chegou, ainda não foi com a estreia atrás das câmeras de Jon Stewart. Apesar da bela reconstituição dos fatos e do elenco afiado, qual a função desses filmes que não trazem nada além de contar burocraticamente uma história, por mais extraordinária que seja?

O repórter de origem iraniana Mazair Bahari trabalha para a Newsweek e volta até seu país de origem durante as eleições de 2010, quando o presidente à época (também conhecido como ditador) Mahmoud Ahmadinejad foi reeleito em circunstâncias tidas por muitos como fraudulentas. Na ânsia de denunciar os atentados na qual a população revoltosa sofreu após as eleições, Mazair consegue imagens explosivas de ataques de autoridades locais. Não demora a baterem em sua porta com alegações absurdas de espionagem, mas que rendem uma prisão que dura pelo tempo do título nacional, onde torturas físicas e psicológicas serão impingidas a ele.

Ou seja, uma história tão rica e fascinante quanto as de O Jogo da Imitação e A Teoria de Tudo... Tratada com a mesma burocracia. Aqui e ali, o ator/apresentador transformado em diretor tem algum lampejo de imaginação, nada que dure muito. Ou que justifique a falta de cuidado com que os personagens coadjuvantes são (mal) tratados. O cúmulo do desperdício se estende ao personagem titulo; sim, o Rosewater do título original em inglês do filme se refere a um perfume típico que o principal torturador do jornalista usa, torturador esse que é tratado da forma mais maniqueísta possível, aliás como todos em cena. Dá pena real de ver como histórias repletas de potencial são reduzidas a "reprodução dos fatos", exclusivamente pelo teor extraordinário dos fatos, e que somente eles já convenceriam o público médio, tanto que as duas biografias britânicas indicadas ao Oscar saíram  ada uma delas da festa com um troféu nobre cada pela capacidade de atração de suas tramas, sem nenhuma das duas ter qualquer arroubo qualitativo. Ele também não está aqui.

O que está? Gael Garcia Bernal se virando do jeito que pode num projeto muito aquém do seu talento; Shoreh Aghdashloo igualmente compenetrada no seu ofício e tentando o máximo em dignidade; Kim Bodnia como o malfadado policial, esse então imerso num personagem ruim mas tentando se safar com o talento que tem. Em meio a isso tudo, temos Stewart, que claramente está tentando cavar seu nome na indústria. Funciona enquanto um primeiro filme, mas pro próximo a gente torce para que ele se cerque de um melhor roteirista ele mesmo e seja mais ousado imageticamente. Mesmo que demonstre alguma ousadia aqui e ali, ainda falta se jogar do trapézio sem rede de proteção.

Taí, acho que é isso que falta a todas essas biografias quadradas, acreditar menos no poder da história que tem pra contar. Porque sabemos do poder delas; estão sendo filmadas, lógico que há um colossal interesse gratuito nelas. Por que não partir do princípio que o interesse já está ganho previamente e ousar, e vibrar, e ofertar mais ao público do que não apenas um roteiro em imagens? Do jeito que a dieta cinematográfica continua me entregando biografias das piores formas possíveis, continuo na minha ideia ruim de menospreza-las, e olha que acho que esse produto aqui até tenta, hein... Mas no fim das contas, ainda temos um roteiro ruim e uma encenação que não privilegia a imaginação, em um baita contra-senso já que ambos são da mesma pessoa. Uma pena.

Comentários (1)

Luís F. Beloto Cabral | quinta-feira, 05 de Março de 2015 - 10:41

Eu tenho um problema com o Gael Garcia Bernal... Eu o amo... 😢
Mesmo que o filme seja mais ou menos já tenho vontade de vê-lo... 😳

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