O cinema nacional é reconhecido pelo ecletismo. Nós fazemos de tudo! Há algum tempo estamos presenciando o questionado suspense ganhar as telonas brasileiras com filmes que são geralmente sucesso de crítica. Uma descoberta do cinema de gênero em benefício de uma cinematografia mais rica para este povo que faz cinema muito bem. Cannes viu e aclamou o ótimo Trabalhar Cansa (idem, 2011) do Marco Dutra e Juliana Rojas. O próprio Dutra voltou às telonas com Quando Eu Era Vivo (idem, 2014). Esse ainda veio acompanhado por Entre Nós (idem, 2013) de Paulo Morelli e do aflitivo O Lobo Atrás da Porta (idem, 2013) do Fernando Coimbra. Seria uma exaltação do tal novíssimo cinema brasileiro que andam comentando?
Juliana Rojas assumiu a direção de seu primeiro longa-metragem. Há muita coisa esquisita numa olhada descompromissada na sinopse: um jovem coveiro, Deodato (vivido por um super carismático Eduardo Gomes) precisa fazer o recadastramento de túmulos abandonados juntamente uma nova funcionária. No entanto, após algum tempo, percebe algumas coisas sobrenaturais o assombrarem à medida que vai realizando seu penoso ofício. Soa convencional pela perspectiva, todavia a obra ganha um tempero a mais: o bom humor e canções. O filme também é um musical. Marco Dutra, parceiro habitual da diretora desde os tempos da faculdade, contribuiu com as composições.
Sinfonia da Necrópole tirou muitas risadas da plateia presente no 6º Paulínia Film Festival. Os elogios não cessaram logo. A novidade proposta pela boa diretora influiu no carinho do público. A história simplória deu espaço para a originalidade do texto e para várias canções curiosas. O roteiro se amarra em um personagem cujo talento em ser coveiro é risível. Está aí uma oportunidade para brincadeiras e gags visuais verdadeiramente cômicas. Essas são plenamente aproveitadas e assim uma série de situações e discussões sobre papeis se acumulam ao longo de sua curta duração. Naquele espaço, ao que parece, tudo pode acontecer.
O título é uma óbvia referência ao filme Sinfonia da Metrópole (idem, 1929) de Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny. Implica numa critica social sobre os espaços e realocações, questões temáticas de uma São Paulo contemporânea. Não deixa, também, de ser uma grande brincadeira. Os atores claramente se divertem, seja cantando ou atuando. Destaco um personagem engraçadíssimo, um padre muito pouco ortodoxo fazendo coisas que poderão deixar algum fundamentalista irado. E isso é delicioso, o descompromisso e a autenticidade em se brincar com tudo. Vale ressaltar que o filme foi quase que inteiramente filmado num cemitério. A obra de Rojas é verdadeiramente divertida e ótima de se assistir. Um sopro de originalidade neste cinema ascendente, misturando mitos e maculadas realidades.
Visto durante o 6° Paulínia Film Festival
Belíssima crítica,elegante e sincera,parabéns Marcelo.
"Deodato (vivido por um super carismático Eduardo Gomes" - super irritante, só se for.
O filme real, e não das ideias, é uma porcaria.