O passado (Le Passé) (Asghar Farhadi, 2013)
A primeira coisa que temos de reconhecer no cinema de Farhadi é a sua habilidade de criar boas histórias como alta carga de realismo. Este seu recente filme segue a mesma linha de seus últimos dois, o retrato do cotidiano de uma família diante de um problema que se liga a outros eventos, evidenciando uma tensão que só tende a crescer ao longo do filme. Mas "Le Passé", e como o próprio nome indica, diferente de "Procurando Ely" e "A separação", não se concentra em um evento presente que projeta consequências futuras, ele apresenta-se como consequência de acontecimentos do passado. Nesse sentido, Farhadi procura inovar, mas sem fugir do seu estilo, sobretudo ao retomar o tema “separação” (o fato de o filme se passar na França é outra questão...).
A segunda é a capacidade de o diretor iraniano explorar suas personagens nos atores e atrizes com quem trabalha. Ficamos nos perguntado se é o diretor que sabe escolher bons atores, ou se ele os ajuda. Em O passado, tanto os adultos, Bejo, Rahim e Mosaffa, como as crianças, Jeanne, Pauline e Elyes, sobretudo estes dois últimos, desempenham seus papeis com desenvoltura de “gente grande”.
Mas quem já assistiu aos dois últimos filmes de Farhandi, talvez aponte uma pequena queda na qualidade de seu roteiro. A mudança de foco no retorno do personagem Ahmad, para o coma da esposa de Samir (sintetizado pela cena final), ficou parecendo um vacilo do diretor para o fecho do filme. Por outro lado, podemos pensar que mudança de foco represente a ideia de alteração na história, coisa que com Ahmad não seria possível. Tudo isso serve para suscitar a reflexão/discussão em quem assistir ao filme, e esse certamente é um dos tantos méritos do cinema de Farhandi.
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