"Ilíada" de Homero, é uma das obras literárias mais belas e completas já escritas. Sua riqueza de detalhes e personagens épicos contagia a todos, inclusive os magos de Hollywood, que decidiram uma vez mais adaptar essa intrigante história para o cinema. Trata-se de um roteiro pronto, somando isso a todos os recursos hoje disponíveis na sétima arte, poderíamos ter uma super produção equivalente a trilogia "Senhor dos Anéis", mas ao invés de seguir um enredo pronto como foi o caso do diretor Peter Jackson e sua trilogia sobre a luta entre o bem e o mal pela terra média, o diretor Wolfang Petersen optou pela simplicidade, exatamente o contraponto à brilhante obra de Homero que prima pela complexidade.
Tróia sem dúvida é uma superprodução, seus detalhes técnicos não deixam de maneira nenhuma a desejar, em seu elenco temos atores como, Brad Pitt, Eric Bana e Sean Bean, só para citar alguns. A computação gráfica apenas completa o filme, e não tenta roubar todos os olhares, como deve ser, sem deixar de exaltar a trilha sonora muito bem composta para as cenas mais contundentes do filme. Bom, até aí, tudo maravilhoso, porém os erros tornam-se logo visíveis a distância. Para o bom entendedor, ou qualquer um que já teve o prazer de ler “Ilíada”, fica evidente a displicência com que muitos dos aspectos que deveriam ter sido tratados com mais importância, foram simplesmente jogados na tela.
Tróia se passa em uma época longínqua, deuses e semi-deuses habitam este mundo e se misturam entre os meros mortais. Um deles é Aquiles (Brad Pitt) um jovem guerreiro cercado de lendas, tão valente e temido, que reis não ousam desafia-lo, um homem cujo único propósito, é ter seu nome cravado definitivamente na história. Considerado invencível por conta de lendas, como as de que sua mãe, Tétis, o havia tornado imortal, mergulhando todo seu corpo dentro do rio Estige, com exceção de seus calcanhares, que era por onde a mesma o segurava. Isso se torna crucial para a queda de Aquiles em batalha, e um furo completo no roteiro de Tróia mais a frente. Muitos que viram o filme acreditam que ele gira em torno do personagem de Pitt, e não da guerra de Tróia em sí, como o próprio título do longa se apresenta.
Mesmo com todas as atenções praticamente voltadas para Aquiles, outros personagens conseguem se destacar brilhantemente como Heitor (Eric Bana). Além de Aquiles, talvez seja o único personagem da trama com o qual o público tenha simpatizado de verdade. Heitor é filho de Príamo, o rei de Tróia, carrega consigo a patente de general do exército troiano, sendo um dos guerreiros mais temidos dessa época, Heitor é um homem honrado, contrário à guerra que se avizinha, porém, a atitude intempestiva do irmão, Paris (Orlando Bloom) o obriga a enfrentar o maior desafio de sua vida. Príamo (Peter O’Toole) e Odisseu (Sean Bean) completam a lista das memoráveis atuações que vemos no longa, sendo que alguns personagens como Paris, interpretado por Orlando Bloom, são caricatos. Vide a cena em que Heitor é derrotado por Aquiles em frente à muralha de Tróia, a reação de Paris é tudo, menos de um alguém que acaba de perder seu irmão de maneira brutal.
Detalhes importantes da obra de Homero são postos de lado em Tróia, como a cena em que Paris acerta Aquiles com uma flecha em seu calcanhar. Paris não sabia do ponto fraco de Aquiles, e um aspecto presente em “Ilíada” que não fôra mencionado, é que a flecha teve ação direta do deus Apolo, por isso se direcionou a essa parte especifica do guerreiro grego. Apolo, enfurecido pelas atrocidades cometidas por Aquiles, inclusive o assassinato de sacerdotes troianos, bem como do príncipe “Troílo”, um dos filhos de Príamo em solo sagrado (cena que não consta no filme), selou de certa maneira o destino de Aquiles na batalha, pelo menos é o que consta no poema de Homero, e merecia ao menos uma citação. O que dizer então da batalha épica em frente aos grandes portões de Tróia, de certa forma, ridicularizada por Petersen. Tratamento idêntico recebeu o “cavalo de tróia”, um aspecto histórico que no máximo, teve seus 5 minutos de fama. Até grandes personagens do filme, não tiveram sua devida história respeitada, sendo este, o caso de Agamenon (Brian Cox). Segundo a obra de Homero, Agamenon é um guerreiro, se não tão bravo como Aquiles, ao menos digno da coroa que ostenta, sendo que no longa, é tratado como um crápula absoluto, um vilão frente aos “bonzinhos” troianos.
Em resumo, Tróia entrega um ótimo filme de ação, porém, trata com certo desdém a obra grandiosa de Homero em vários aspectos. Repito, havia potencial para uma produção espetacular baseada em um roteiro pronto que é “Ilíada”, porém uma obra tão complexa como essa, não pode ser contada em 163 minutos, ainda mais rejeitando detalhes tão expressivos como a grande batalha de Tróia e o “presente de grego”.
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