Filme relativamente diferente de Hitchcock, em relação à maioria de suas outras obras, "O Homem Errado" mantém, contudo, em suas pormenoridades, pequenas características que fazem com que reconheçamos os "toques de mestre" do velho Hitch, que conduz a trama de maneira linear, sem sobressaltos, de forma absolutamente segura.
Uma exceção na obra do diretor, o roteiro é baseado em fatos reais acontecidos cerca de 4 anos antes do filme, e não em algum conto ou livro. Hitchcock quis manter-se o mais fiel possível aos fatos, o que por si só serviu para que nos impressionemos ao imaginar que tudo aquilo realmente aconteceu àquele homem, porém em certos momentos do filme, falando agora sob o ponto de vista de entretenimento, a trama se arrasta em algumas ocasiões, especialmente do meio prá frente.
A estória é basicamente sobre um homem simples, músico, pai de família, Cristopher Emanuel Balestrero, interpretado com segurança por Henry Fonda, que se vê acusado por uma série de roubos e furtos que não cometeu.
O mestre do suspense não lida exatamente com o medo nesse filme, mas sim com a agonia, digamos assim. Somos surpreendidos junto com o protagonista (Henry Fonda faz uma cara de "coitado" durante todo o filme realmente impressionante) por tudo que vai aparecendo contra ele e a primeira parte da estória lida muito bem com esse aspecto de contrastar a vida simples e retilínea de Balestrero com a sucessão de aspectos que vão fechando o cerco contra ele, onde Hitch com perfeição nos causa uma sensação de impotência e enclausuramento realmente agonizantes, já que não vemos saída para aquele homem conseguir provar que é inocente, diante de tantas circunstâncias que se impõem contra ele.
No entanto do meio prá frente o filme parece não avançar, estanca em certo ponto e daí não sai. Há o mérito de ser fiel à história real, porém em termos de andamento o filme perdeu bastante, teve um final relativamente abrupto e com isso ficou em dissonância com a primeira metade de clima bastante intrigante e sombrio - o fato do filme ser em preto e branco inclusive serviu para realçar a idéia de "enclausuramento", de solidão, de impotência.
É claro que na média trata-se de um bom filme de Hitchcock, porém abaixo certamente de seus maiores clássicos. Destaque para a boa interpretação da atriz Vera Miles como esposa de Balestrero - dois anos depois ela atuaria em outro sucesso de Hitchcock, o famoso "Psicose" em 1960.
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