Além de tratar-se, sem dúvida nenhuma, de um dos maiores clássicos do cinema, esse romance é uma verdadeira aula de História e de como todo e qualquer regime político possui contradições - assim como a nossa própria vida. Apesar da trama se desenrolar de maneira um tanto quanto lenta (e por vezes até arrastada), esta superprodução dirigida pelo mestre David Lean tem cenários deslumbrantes e música soberba, que lhe conferem o rótulo de clássico imperdível, sem dúvida nenhuma.
Estrelado pelo egípcio Omar Sharif, que interpreta o personagem-título do filme, a estória trata basicamente dos sentimentos e da essência humana durante a Revolução Russa. É uma metáfora perfeita da vida, nesse difícil período, pois retrata o ser humano, sua natureza, em todas as suas mais substanciais dimensões. Jivago poeta seria a valorização da subjetividade, a face romântica sufocada num tempo em que a vida privada era proibida, enquanto Jivago médico é o lado solidário na época em que o "social" esmaga a individualidade.
Algumas imagens me fizeram segurar a respiração e quase sentir fisicamente a emoção do personagem: a estrela vermelha brilhando sobre a entrada do túnel de trabalhadores; o bater dos galhos na vidraça coberta de neve no quarto em que Yuri (Jivago criança) estava ao voltar do enterro de sua mãe; o ataque da cavalaria contra os bolcheviques; o momento em que Jivago olha Tonya no campo e toma a decisão de ser só dela e na sequência o momento em que fala para Lara dessa decisão ... e uma das mais belas imagens : a maneira como os flocos de neve se transformam em flores e uma flor se transmuta no rosto de Lara... Nossa! Belíssima! De uma simplicidade e sensibilidade impressionantes. A fotografia (vencedora do Oscar) é sem dúvida um dos aspectos altos do filme.
O amor não é algo previsível e linear e o par romântico Jivago e Lara, a meu ver, retrata isso. Revela os encontros e desencontros de nossa vida sentimental... ás vezes, a vida nos coloca em situações e oscilamos entre o amor sublime (considerado por muitos superior) e o amor excitante, que provoca paixão. Entendo que isso acontece porque somos "vários" em um só e nem sempre podemos viver todas esses faces em sua plenitude.
Muito interessante o personagem interpretado pela filha de Charlie Chaplin, Geraldine: sua Tonya sabia todo o tempo do sentimento que seu esposo nutria por Lara e respeitou e o deixou livre para vivê-lo, sem abrir mão de sua dignidade e do direito de viver seus próprios sentimentos; o que a torna uma pessoa de natureza equilibrada.
Além do Oscar de Fotografia, esse filmaço levou mais quatro estatuetas douradas: roteiro adaptado, trilha sonora, direção de arte e figurino, porém acabou perdendo os principais prêmios (Filme e Diretor) para o outro clássico do mesmo ano - "A Noviça Rebelde". Porém isso não diminui sua importância histórica e cinematográfica em absolutamente nada.
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