Confesso que, apesar de já ter ouvido falar muito dos filmes de Quentin Tarantino, nunca assisti um filme inteiro dele. Vi algumas cenas de "Pulp Fiction" - e não gostei, achei o filme psicodélico demais e violento em excesso - e vi também alguns trechos dos dois volumes de "Kill Bill" - desses já gostei bem mais, o enredo de vingança pareceu ser bem construído, porém nunca assisti esses filmes completos e por isso nunca pude opinar consistentemente sobre eles.
Porém, devido à maioria de críticas favoráveis ao filme, resolvi assistir ontem no cinema "Bastardos Inglórios", até para começar a formar meu conceito sobre o diretor. E com certeza Tarantino começa a ser para mim um grandíssimo diretor - e me fez ao final da sessão ter vontade de assistir os outros filmes dele.
"Bastardos" é um daqueles filmes que, ao sairmos da sessão na telona, arrebatam, fazem a gente rir conosco mesmo, por sabermos que acabamos de assistir uma aula de como fazer cinema, um filme que sintetiza tudo aquilo que um bom filme deve ter: fotografia maravilhosa, elenco atuando todo ele primorosamente bem, uma direção seguríssima e de mão firme, um roteiro envolvente que consegue fazer a gente rir e ficar ansioso ao longo da estória de duas horas e meia de duração.
Tarantino me impressionou pela condução segura do filme, que mesmo tendo algumas cenas longas, tem diálogos esplêndidos. Nota-se que o diretor fez valer sua vontade, que ele teve o esmero de posicionar corretamente câmera, trejeitos eventuais de alguns personagens, e com isso explorou as melhores características de vários deles - a canastrice de um Brad Pitt muito divertido, o talento de um Chistoph Waltz favorito ao Oscar, a beleza de uma Diane Kruger muito convincente em seu papel "duplo" - isso sem falar na loirinha Mélanie Laurent, dando um show de interpretação na pele da única sobrevivente da família exterminada - e que procura sua vingança pessoal contra os nazistas.
Algumas cenas são memoráveis. Destaco três, em ordem de aparição no roteiro: a cena inicial, onde o coronel Hans Landa interroga o camponês que abriga judeus foragidos em sua casa (de condução soberba por Tarantino); a cena do jogo de adivinhação de cartas grudadas na testa, a melhor do filme, é daquelas cenas até que você acha que estão lá só prá "encher linguiça" mas que vai ganhando corpo e intensidade até desembocar num desfecho altamente tenso e imprevisível; e a cena onde Pitt e seus colegas se fazem passar por italianos na entrada do cinema, de arrancar gargalhadas homéricas de todo o público presente à sessão.
Tarantino soube durante todo o filme mesclar bem a condução do roteiro, intermeando momentos de tensão, de ação e de comédia. Meu único senão é quanto ao desfecho do filme; claro que o mesmo se mostrou coerente com a postura sarcástica e irônica que o diretor assume desde o início, porém eu chegaria a dizer que Tarantino poderia ter filmado uma obra-prima se quisesse ser um pouco menos sarcástico e se atesse um pouquinho só à história real que todos nós conhecemos.
Mesmo assim, é claro como água afirmar que "Bastardos Inglórios" me parece ser, de longe, um dos 3 melhores filmes do ano. Não conheço a obra de Tarantino - a qual pretendo me interessar mais a partir de agora - porém este filme certamente deve estar entre seus melhores. E o filme tem toda a pinta de ser um daqueles que terá mais indicações ao próximo Oscar.
Se você é meio ressabiado quanto aos filmes de Tarantino, assim como eu sempre fui, faça como eu: dê mais uma chance a ele e assista ao filme, tenho quase certeza que dessa vez você irá gostar.
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