A Pixar está para a animação assim como Michael Phelps está para as piscinas. Desde que a empresa foi criada na década de 90, a rotina tem sido a mesma. Eles lançam um bom filme, nos deixam embasbacados e mal dá tempo pra rasgar todos os elogios e lá vêm eles com outra obra-prima.
Não se trata apenas de esbanjar talento, o estúdio de John Lasseter gosta mesmo é de desdenhar a própria capacidade de superação. Só assim pra explicar Wall-E, longa da Pixar que se vale da estética sci-fi e linguagem do cinema mudo para contar uma história de amor com ecos de consciência ecológica.
Nas mãos de outro estúdio, um filme como esse tinha tudo para dar errado. Mas estamos falando da Pixar. Da empresa que revolucionou a animação. Que sempre mostrou ter um talento incomum em humanizar o inanimado. Que nunca errou a mão em nenhum de seus projetos A única instituição do mundo capaz de dar vida e sentimento a brinquedos, carros e robôs e fazer isso parecer uma simples tarefa doméstica.
Escrito e dirigido por Andrew Stanton - o cérebro mais privilegiado da Pixar-, a saga do robozinho Wall-E, se passa num futuro distante, onde o lixo é a única matéria prima existente na Terra. Sua função é recolher e empilhar os dejetos deixados pela população extinta, atividade que desenvolve por séculos. Durante este tempo, Wall-E se dedica a colecionar os resquícios que sobraram humanidade. Entre as quinquilharias que encontra está o musical Olá Dolly!, com o qual passa a aprender sobre os sentimentos humanos .
A descoberta desse e de outros elementos faz com que o robozinho passe a ganhar personalidade própria, tornando-se cada vez mais sensível e independente. Seus dias de solidão acabam, quando conhece a Eve (ou Eva), um protótipo mais avançado de sua espécie que vaga pela Terra em missão secreta.
Até aí, o filme já tem 45 minutos. Durante esse tempo, toda narrativa da animação é expressa por imagens e sons, sem nenhum diálogo. É claro que o sujinho e solitário Wall-E se apaixona pela moderna e destemida Eve. Ao encerrar sua missão no planeta, que era a de encontrar indícios de vida vegetal, ela retorna para a nave misteriosa que a deixou na Terra.
Disposto a não perdê-la Wall-E se infiltra na espaçonave e dá início a uma incrível aventura pela galáxia. Lá dentro, ele descobre que os poucos sobreviventes da humanidade vagam a 700 anos num cruzeiro galáctico pelo espaço, enquanto buscam solucionar o problema da Terra.
A partir daí, multiplicam-se as referências cinematográficas do filme. Ao entrar na nave Axiom, Wall-E torna-se uma versão robótica de Charles Chaplin de Tempos Modernos, retrógrado, perdido e atrapalhado, tentando acompanhar o ritmo frenético da tripulação espacial.
Não é preciso muito esforço para constatar que o computador Auto, que controla a missão da Axiom, é citação explicita a HAL 9000 do filme “2001″. Há também referências de outros filmes de ficção como ‘Alien’ - Sigourney Weaver participa das dublagens - e ‘Guerra nas Estrelas ‘ - a voz dos protagonistas ficou a cargo do sonoplasta de Star Wars, Ben Burtt .
Mesmo com todas essas menções a filmes adultos, Wall-E também se conecta com o público infantil através de personagens engraçados, como a baratinha de estimação do protagonista e o robozinho M-O encarregado pela identificação de poluentes da nave. Entre o humor e a ficção, há também uma mensagem clara quanto à questão ecológica, na qual humanos obesos preferem se enclausurar dentro de uma máquina do que tentar cuidar do planeta.
Mesmo com todas essas temáticas, a trama central e os grandes momentos do filme estão centrados no casal Wall-E - Eve, com direito a todos os ingredientes de uma boa comédia romântica, salpicada por encontros e desencontros. É impossível não se sensibilizar com a cena onde eles dançam no espaço; tão sensível quanto o beijo de macarrão de A Dama e o Vagabundo. Só a Pixar mesmo pra fazer uma história de amor entre um PC e uma iMac.( Ok, foi péssima uma analogia…)
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