[Nova animação da Pixar mantém o padrão dos filmes anteriores]
O que são as palavras diante de uma obra-prima? O que se pode dizer de um filme que já nasceu clássico? Que enternece, que emociona e que desperta a criança ainda viva em nosso espírito? Sim, Up-Altas Aventuras é mais um excelente trabalho da Pixar Animation Studios que chega as telas brasileiras com quatro meses de atraso, após a primeira exibição no Festival de Cannes.
Mas a questão persiste: o que são as palavras, ou melhor, do que servem as palavras para definir uma animação que é simples e perfeita, e nada mais que isso?
Passei horas tentando encontrar uma abertura que fosse digna de traduzir esse pequeno novo diamante lapidado pelo estúdio de John Lasseter, como sempre, carregado de simpatia e de elemento humano por trás da tecnologia digital. De tantas tentativas frustradas acabei repelido a usar esse texto como forma de apelo, embora se pareça mais com um panegírico em prol das animações. Se há uma virtude nos trabalhos da Pixar é que eles nos tornam passionais. Colocam uma paliçada em nossa racionalidade. É impossível não julgá-los com o coração.
Veja o caso de Up. Mesmo que você perceba suas limitações, as referências sugadas de outros filmes e seus clichês manipuladores, não há como escapar da torrente de emoções destinadas a nós, mortais espectadores. É como Casablanca: não é perfeito, mas basta assoviar As time goes by pra que você se esqueça disso...
Ao exemplo dos clássicos da Walt Disney Pictures, o filme de Pete Docter (Monstros S.A.) e Bob Peterson se vale de uma história sensível e essencialmente trágica, que é contornada pelo carisma e bom humor dos protagonistas, nesse caso, um velhinho de 78 anos e um garoto de apenas 8.
Carl Fredricksen (dublado por Edward Asner e na versão brasileira por Chico Anysio) é um vendedor de balões viúvo e desacreditado. Russell, um menino dedicado e carente que sonha em ser explorador. A simples premissa da amizade de gerações opostas já nos remete a duas grandes obras do cinema: Cinema Paradiso, e a clássica dupla Alfredo e Toto , e Perfume de Mulher, com Al Pacino em estado de graça e Chris O´Donnell na melhor atuação da carreira. Carl e Russel estão nesse mesmo patamar de excelência.
Desiludido pela nova vizinhança e, sobretudo, por não ter conseguido realizar o grande sonho da falecida esposa, Carl transforma sua casa num dirigível feito de balões de gás. Com ela, o astuto velhinho pretende chegar à América do Sul, no topo de uma cachoeira descoberta por seu ídolo na infância: o explorador Charles Muntz. Russel vai parar na geringonça por acaso e se torna seu companheiro de viagem.
A partir desse momento, a abordagem do filme, até então tragicômica, ganha um “up” no quesito humor, com a aparição de personagens malucos que fazem transbordar a gargalhada aguda das crianças. A dos adultos também.
Divertido, sincero, sensível, emocionante e previsível. E principalmente simples, principal virtude do longa, o que é visto logo de cara na abertura pra lá de tocante. É impressionante como as piadas do filme surgem com espontaneidade e reaparecerem no momento certo. As pontas soltas da trama se entrelaçam de forma tão desencanada que dá impressão de que Up-Altas Aventuras foi feito por uma criança. Já virou rotina dizer isso, mas a Pixar não cansa de nos impressionar. Será que algum dia eles mandarão uma bola fora? Duvido muito...
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