[Épico de Paul Thomas Anderson mergulha no ego amargo de um magnata do petróleo]
Há algo de inquietante em Sangue Negro. A errante trajetória do magnata do petróleo Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) é contata de maneira arbitrária e bastante enigmática pelo diretor Paul Thomas Anderson. Mesmo artisticamente fugaz às diretrizes de um épico, PT Andersom ostenta sua grandiosidade ao versar sob três pilares que moldaram a sociedade americana: o capitalismo, a igreja e a estrutura familiar.
Na adaptação livremente inspirada do romance Oil!, de Upton Sinclair, Plainview é a faceta lúgubre do empreendedor que busca o poder a qualquer custo. Na casca, um ser obstinado, visionário e bem-sucedido, mas por um dentro há um vazio, uma ferida mal curada que teima em não cicatrizar.
Depois de descobrir petróleo em suas terras no Novo México, ele passa a prospectar em outras regiões e amplia seu território país fora. Como estratégia de negócio, adota o filho de um funcionário morto, apoiando-se sob a égide do “homem de família”.
Durante suas andanças, recebe a pista de uma região fecunda em petróleo em Little Boston, na Califórnia. Lá conhece Eli Sunday (Paul Dano), pastor fervoroso tão bom na lábia quanto Plainview. Na inauguração dos poços de petróleo, ambos batem de frente. O conflito de egos é um prenúncio de tumultuadas disputas de poder. É inevitável: haverá sangue!. De culpados e inocentes. E desse entrave ninguém sai totalmente ileso ou em perfeito juízo.
Acima de ser um épico amargo sobre o nascimento de uma civilização poderosa, Sangue Negro leva na penumbra, inúmeras outras implicações. A mais forte delas é a ambivalência de Daniel Plainview, o homem sedento pelo poder e carente por afetividade. Sua trama é, ao mesmo tempo, a espinha dorsal e o termômetro da narrativa. A relação incongruente com o filho adotivo, suas polêmicas estratégias de desenvolvimento e o apego com o irmão recém descoberto dão margem a diversas interpretações que só aumentam a cada nova exibição.
Por essas e outras que Sangue Negro talvez seja um filme para a posteridade. Por mais laureado que tenha sido talvez ganhe um reconhecimento tardio, como aconteceu com o Cidadão Kane, filme que também retrata o universo cáustico de um homem de negócios.
Sem se reinventar ou se enquadrar às vértices da academia, PT Anderson manteve pulsante a linguagem e a dinâmica não ortodoxa de seus personagens. Apesar de não ter sido tão democrático com eles como foi em Magnólia ou Boogie Nights, pelo menos se mantiveram enveredados bem longe do previsível.
Daniel Day-Lewis é um cara de poucos filmes, mas quando resolve atuar dá pena dos seus concorrentes. Sua interpretação no filme é perfeita; irretocável. Quem também abrilhantou o filme foi Jonny Greenwood e sua envolvente trilha sonora. Por enquanto é cedo pra dizer se Sangue Negro está à frente do seu tempo. Mas nunca se sabe quando se trata de PT Anderson…
http://blig.ig.com.br/planosequencia/
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário