[Ritmo latino e cacoetes do cinema mudo ditam o ritmo dessa bem humorada produção francesa]
Uma piada, por mais engraçada que seja, perde a graça quando é contada várias vezes. O segredo de um bom humorista é saber recontá-la, conduzindo seu relato com novos recursos, de modo que consiga reinventar o riso no espectador. Os comediantes Fiona Gordon e Dominique Abel fazem exatamente isso no filme Rumba. Num exercício de inocência e nostalgia, a dupla se apropria do escracho e das gags exageradas dos intérpretes do cinema mudo para dar nova roupagem a velhas piadas.
Com origem em Cuba, o rumba , gênero musical que dá nome ao filme é a senha para as confusões do casal Fiona e Dom numa escola primária. Fiona é professora de inglês e usa métodos de aprendizagem, no mínimo, extravagantes. Já Dom é daqueles professores de educação física que colocam os alunos pra suar a camiseta. Além das roupas coloridas, outro ponto em comum que une o casal é a paixão pelo dança cubana. O ritmo latino extravasa o ânimo da dupla que tem a casa toda decorada por troféus obtidos em festivais de dança. Ao voltarem pra casa com mais um prêmio, os dançarinos são surpreendidos por um homem (Philippe Martz) que espera a morte no meio da estrada. Dom tenta desviar do suicida e acaba batendo o carro. O acidente deixa Fiona sem a perna e ele, sem a memória. Após a recuperação, ambos tentam levar uma vida normal, mas as sequelas colocam o casal em maus lençóis.
Com muitas cores, poucos diálogos, e cenários fake, Rumba causa entropia nos minutos iniciais. Num primeiro momento, o climão teatral com takes simplórios enternece, ao passo que parece incapaz de levar o filme adiante sem soar arrastado. Impressão que se sustenta até o momento do acidente quando o tom ingênuo do longa dá lugar ao humor negro. No lugar da perna, Fiona coloca uma prótese de madeira, já que o par de muletas só levava confusão para a sala de aula Em vez de instigar os alunos à dança, Dom acerta seus alunos com luvas de boxe e leva-os a passeios não muito produtivos. As confusões estão apenas começando…
Interpretados pelos próprios diretores - não por acaso, com os mesmos nomes - a dupla de protagonistas é hilária e propaga momentos impagáveis no melhor estilo dos humoristas clássicos Charles Chaplin, Buster Keaton e Jacques Tati. Além deles, somente o personagem suicida ganha certo destaque. O trio rende boas gargalhadas, porém é refém dos próprios exageros. Embora não se recusem em ser pastiche, não é em todos os momentos que os humoristas acertam em renovar certas piadas. Como no velho recurso do fio da blusa que se desfia e despe o personagem. Ou no vilão que cai no precipício. Até os episódios do Chaves trabalham melhor esses recursos. Embora deem lá suas derrapadas, Rumba não perde a simpatia e muito menos o rebolado nos números musicais. Os pouco mais de 70 minutos de duração, descomprometem o trabalho a possuir qualquer responsabilidade que não seja de fazer rir. Um filme simpático, nada mais que isso…
http://blig.ig.com.br/planosequencia/
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário