[Animação adulta utiliza o humor para desarmar as agruras de um regime autoritário]
Durante a infância, a quadrinhista Marjane Satrapi viu de perto as agruras sofridas por seus familiares nas mãos da monarquia Xá do Irã. Mais tarde, sentiu na pele a ascensão da cruel e sanguinária revolução islâmica, período em que foi obrigada a deixar país para garantir sua sobrevivência.
Com uma biografia trágica como essa, a escritora poderia muito bem ter criado uma obra triste e amargurada quando resolveu contar a história de sua vida. Em vez disso, publicou Persépolis, uma cativante -e até bem-humorada- autobiografia contada a partir de histórias em quadrinhos, onde a família e os amigos são expostos em primeiro plano e a tragédia é usada apenas como pano de fundo.
Publicada em 2002, a graphic novel tornou-se um sucesso em diversos países, tornando inevitável sua adaptação para o cinema. O resultado saiu em 2007 através de uma aclamada animação dirigida pelo estreante em longas Vincent Paronnaud. Marjane também assina a realização.
Indicado e ao Oscar e ao Globo de ouro da categoria, Persépolis sagrou-se vencedor do prêmio Cesar além de faturar a estatueta do júri especial de Cannes. O filme faz recortes da vida da protagonista; da criança curiosa e observadora até a adolescente petulante e intransigente, que ouvia discos do Iron Maiden e promovia bate-boca com professores em sala de aula. Sua conduta contestadora é apoiada pelos pais, profundo detratores do radicalismo e das leis religiosas do governo do Irã.
Quando membros da sua família passam a ser perseguidos e mortos, ela muda-se a contragosto para Europa. Longe de casa, lida com alguns preconceitos e decepções amorosas e sofre pela falta da avó, sua melhor amiga, e da mãe- dublada pela belle de jour Catherine Deneuve.
Da biografia de Marjane às questões políticas e culturais do país, tudo é composto pelo diretor com um realismo impressionante. Basicamente, Persépolis é um filme sobre como os muçulmanos mais sensatos sentem-se deslocados dentro do seu próprio país. Idéia que é claro foi repudiada pelo governo iraniano que enviou à França uma nota oficial criticando o conteúdo “anti-islâmico” do longa.
Ao contrário da HQ, cuja ilustração é toda em preto e branco, a animação intercala imagens coloridas e em P&B. Destaque ainda para participação de Sean Penn e Iggy Pop na dublagem em inglês.
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