[A cidade das luzes vista com cores opacas e olhos de Robert Altman]
Esqueça a Paris dos cartões postais, iluminada e onipotente pela aura de sofisticação e romantismo que exala em torno de si. Em vez do classicismo tangente no imaginário coletivo, a capital francesa captada por Cédric Klapisch possui um espectro lúgubre e introspectivo. Nela, a cidade sinônima do amor é habitada por pessoas intempestivas, às voltas com suas desilusões e relacionamentos tortuosos. A Paris que os turistas veem e sentem não é a mesma dos próprios parisienses. Parece contraditório, mas o grande mérito do cineasta foi não fazer dessa inversão de foco uma crítica.
Ao mesmo tempo em que a auto-análise de Paris exibe reveses, há também um espírito de vivacidade presente no filme. Comédia e tragédia andam lado a lado vistas por um mosaico de pessoas de diferentes estirpes. Na selva urbana parisiense, habitam trabalhadores, intelectuais, estudantes, divorciados, imigrantes e mal-humorados. Para obter essa universalidade, Klapisch se apropria do estilo Altman de fazer cinema, espalhando seus personagens pelas ruas e bairros da cidade.
Pierre (Romain Duris) é um ex-dançarino portador de uma doença grave. Na tentativa de reanimá-lo, a irmã Elise (Juliette Binoche) se muda para o apartamento dele com os filhos. Como não quer sair de casa, Pierre passa a admirar o mundo da sacada, onde possui visão privilegiada de Laetitia (Mélanie Laurent), bela estudante que mexe com o coração de Roland Verneuil (Fabrice Luchini), professor de história que mantém um relacionamento instável com o irmão mais novo. Há ainda um casal de feirantes divorciados e uma proprietária de padaria terrivelmente insuportável.
À medida que essas pessoas vão entrando em colisão, o filme oferece um painel de relações que tanto pode padecer, como dar certo. Mesmo que o protagonista do filme seja a própria cidade, a visão das ações e resoluções da trama são vistas através dos olhos enfermos de Pierre. O desfecho é sintomático nesse sentido. Longe se ser melancólico ou desabonador, Paris é um filme interessante. Embora tenha faltado um pouco de carisma e o fato de alguns personagens terem brilhado mais que outros, o longa de Cédric Klapisch não permite que a ambição se sobreponha ao bom senso.
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