[Obra-prima de Billy Wilder é um dos expoentes da era noir ]
“Sabe quem matou Dietrison? Se segure bem na cadeira, Keyes. Fui eu quem o matou. Eu, Walter Neff. Agente de seguros, 35 anos, solteiro e sem cicatrizes aparentes”
Junte um dedo de sangue com outro dedo de sangue. Arrume um argumento, coloque-o sob juramento e pronto. Está feito o feito pacto de sangue. Em 1944, o dedo do diretor Billy Wilder uniu-se ao do escritor e roteirista Raymond Chandler que baseados no argumento do romancista James M. Cain deram origem a Double Indemnity.Tudo bem que a tradução literal do filme não condiga com o título dado em terras brasileiras. Mesmo assim, Pacto de Sangue, como foi chamado aqui, até que fez justiça poética aos três grandes artistas que uniram esforços para conceber esta obra-prima; um dos expoentes da era noir. Dispondo de uma genialidade ainda desconhecida pelo público e crítica, Billy Wilder fez um daqueles filmes que de tão prazerosos de assistir, acabam ocultando o quanto tem de substancial.
Pacto de Sangue foi o primeiro grande filme do cineasta que com ele concorreu a sete Oscar. Antes de se tornar conhecido como artífice de comédias e filmes grandiosos, Wilder mostrou-se a vontade no comando desse suspense com contou com escárnio de Chandler, serpenteado por arpejos de Hitchcock. O filme é narrado em primeira pessoa pelo protagonista Walter Neff (Fred MacMurray). Logo na abertura ele confessa um assassinato. Cambaleante, ele entra na companhia de seguros onde trabalha, pega o megafone e desabafa a intrincada confusão em que se meteu.
Durante sua confissão surgem os flashbacks que elucidam a história. Tudo começa quando Neff que vai até a casa de um homem milionário renovar o contrato do seu automóvel. Na mansão do cliente, ele conhece a sua esposa, a insinuante Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck). Logo de cara, os dois têm aquilo que chamamos de atração fatal. O romance fulminante inspira o desejo de Phyllis assassinar o marido, de forma que se pareça com suicídio. Neff fica reticente, mas sucumbe ao charme da amante que o convence a dar cabo num plano diabólico que consiste em matar o companheiro e de quebra abocanhar uma dupla indenização de seguro. A grana serviria para que fugissem da cidade e assim, começassem uma vida nova em outro lugar.
O plano é executado com perfeição. A própria polícia crê no suicídio forjado pelos amantes. Acontece que Barton Keyes (Edward Robinson), figurão da empresa de seguros onde Neff trabalha , tem um faro apurado para desbaratar impostores. Outra que não se convence é Lola (Jean Heather), filha do empresário morto, que devido a circunstâncias passadas, não tem dúvidas do envolvimento da madrasta na morte do pai. O que se vê a partir daí é uma sucessão de reviravoltas na trama, com elementos de mistério e traição. O desfecho anticlímax já era esperado pelo espectador lá no princípio, mas ainda assim surpreende pela capacidade de Wilder em prolongar o desespero do protagonista. Faz isso com muito charme e sarcasmo.
Como todo clássico do cinema, Pacto de Sangue teve uma composição atrás e na frente das câmeras que o capacitaram a ser um trabalho inestimável. Entre os elementos que contribuíram ao sucesso do filme, uma menção se faz obrigatória ao trabalho do diretor de fotografia John F. Seitz. Os fachos de luz de baixo para cima que ele usou nas locações noturnas salientaram o ambiente de tensão e suspense das cenas. A atmosfera de sombras só fez ressaltar o aspecto sombrio e corruptível dos personagens, o que é uma marca registrada dos filmes noir.
Outro destaque foi a atuação tragicômica de Fred MacMurray. Ator de comédias, ele se encaixou bem na concepção de protagonista idealizada por Wilder. Com trejeitos saudosos e um sorriso carismático, ele conseguiu emprestar a simpatia necessária ao papel de um homem galanteador e seguro, próximo da meia idade. Quem também não fica atrás é a femme fatale Barbara Stanwyck que se aproveita da vulnerabilidade do homem solteiro, que procura alguém para casar. Ambos mostram em cena uma química invejável, que é lapidada com maestria pelos diálogos de Chandler. Um filme notável, digno de um dos maiores realizadores do cinema.
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