Em certa altura do filme O Lutador, o personagem título Randy “Ram” Robinson, manda essa:
” Os anos 80 eram o máximo!”.
Ao proferir essa frase, Mickey Rourke fundiu a ficção com sua própria realidade. Não são poucas as semelhanças entre o protagonista do filme de Darren Aronofsky e o ator que interpreta o personagem. Na década de 80, lutadores de wrestle - a popular luta-livre - com sua montanha de músculos, levavam ao delírio adultos e crianças com suas peripécias e golpes de mentirinha.
Na mesma época, Rourke era apontado como um dos atores mais promissores de Hollywood. Tido como talentoso, atuou em filmes elogiados como Corpos Ardentes, Coração Satânico e O Selvagem da Motocicleta e emplacou o sucesso comercial Nove Semanas e Meia de Amor, numa produção marcada por atritos entre ele e a atriz Kim Besinger. Polêmico, disputou a socos com Sean Penn o papel do escritor Charles Bukowski em Barfly-Condenados pelo Vício, ironicamente o cara que lhe surrupiou o Oscar de melhor ator esse ano.
Nos anos 90, Mickey Rourke caiu no ostracismo e definhou, assim como a luta-livre. Nocauteado como ator, subiu aos ringues para lutar boxe, uma antiga paixão. O golpe foi ainda mais forte. As poucas lutas que travou na curta carreira foram suficientes para deformar a face, obrigando a fazer cirurgia plástica para recuperar o rosto.
Seu personagem em O Lutador é muito parecido com ele. Ex-campeão de luta livre Ram vive das glórias do passado enquanto trabalha num supermercado e ganha um dinheiro extra em pequenas exibições de wrestle com outros veteranos do esporte. Mesmo lutando em pequenos ginásios improvisados, o lutador mantém os velhos hábitos como tingir o cabelo e ir a sessões de bronzeamento artificial. Como se sonhasse com um retorno triunfal.
Nas folgas, vai a uma boate encontrar-se com Cassidy (Marisa Tomei), prostituta quarentona tão decadente quanto ele. Solitário tem uma única filha com quem tem uma relação nada amistosa. Um problema de saúde faz com que tenha que abandonar os ringues. Mas como poderá abandoná-lo se é ele sua única razão de viver?
Em seu trabalho mais acessível, Aronofsky nos coloca diante de um filme memoralista e ao mesmo tempo reflexivo. Quem também não fica por menos é o seu colaborador Clint Mansell que compõe uma trilha sonora comportada, bem longe do clima perturbador e experimental que desempenhou em Pi e Réquiem para um Sonho.
Legal também é a trilha musical embalada por Quiot Riot, Scorpions e Bruce Springsteen , num clima bem oitentista. Outra grata surpresa em O Lutador é a atuação relâmpago da atriz Evan Rachel Wood. Interpretando a filha de Ram, ela manda muito bem apesar dos poucos minutos em que aparece na tela.
Mesmo nas mãos de um realizador competente, o grande destaque do filme sem dúvida é Mickey Rourke. Na pele do seu wrestler, ele compõe um tipo contraditório, um gigante indefeso no século 21, que pode voar no ringue e se cobrir de sangue, mas é incapaz de ler sem usar óculos ou lembrar de um jantar. Com esse papel, Rourke pode agora finalmente levantar-se de um nocaute de mais de 15 anos. Nós, os espectadores, estamos ansiosos por sua próxima luta!
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