[ Andrzej Wajda reconstrói o fatídico massacre de Katyn na Polônia ]
A 2° Guerra Mundial é, sem dúvida alguma, o assunto mais abordado pelo cinema. Tanto na Europa como nos Estados Unidos. Mas em nenhum lugar do mundo o conflito lançou trevas tão devastadoras quanto na Polônia. O país que serviu de front tanto para a Alemanha quanto para União Soviética acabou sofrendo nas mãos dos dois países durante o conflito. Os poloneses ainda não apagaram da memória o genocídio sem precedentes a que foram submetidos. As cicatrizes permanecem abertas na lembrança dos sobreviventes. Dois deles, figuram no hall dos maiores cineastas europeus. Roman Polanski perdeu a família inteira na guerra. Com O Pianista ele transpôs indiretamente na tela os horrores que testemunhou nos campos de concentração. Cinco anos depois de Polanski ter ganho seu primeiro Oscar de direção com o filme, foi a vez de outro conterrâneo seu, exorcizar o sofrimento num comovente longa metragem.
Centrado numa falsa verdade histórica, o diretor Andrzej Wajda relata o massacre de mais de 20 mil oficiais polonês ocorrido na floresta de Katyn, que dá título ao filme indicado ao Oscar de Melhor produção estrangeira no ano passado. É aquela velha máxima de que a verdade é sempre contada pelos vencedores. E como em 1945, a União Soviética levou a melhor sobre a Alemanha, a Polônia foi anexada aos soviéticos, o crime de guerra recaiu sobre os alemães quando na verdade ele foi cometido por Stálin.
Tudo começa em 1939. Após a invasão da Polônia pelos nazistas, tropas russas ocupam o leste do país. Mesmo não declarando formalmente guerra, oficiais poloneses são mantidos sob custódia pelos soviéticos e enviados a campos de concentração. Um deles é Andrzej (Artur Zmijewski), que nega se a desertar o posto e fugir sua esposa Anna (Maja Ostaszewska) para honrar seu compromisso com o exército. Anna então se junta a outras mulheres polonesas na esperança de o marido retorne. Em 1943, são descobertas as covas de Katyn que logo são atribuídas aos nazistas. As poucas pessoas que sabem a verdade são silenciadas pelos soviéticos. A verdade sobre o massacre só é confirmada tempos depois através do diário de prisão de Andrzej.
Conduzido com sobriedade por Wadja, Katyn dedica-se a particularizar o sofrimento das famílias dos oficiais e de todos aqueles que se insurgiram contra a mentira. Mas a homenagem do diretor recai principalmente à sua família. O pai Jakub Wadja foi um dos oficiais mortos no massacre. A mãe Aniela, a viúva que amargou por anos a esperança de encontrar o marido vivo.
Entre tantas acusações que precisavam ser feitas, o diretor também acha um espaço no seu filme para criticar a religião. A cena é emblemática. Logo no início do filme, um padre reza ajoelhado sob uma cruz estirada no chão. O rosto de cristo está tapado por um casaco. Mais adiante, surge outra alfinetada na qual um padre –mais por medo do que por convicção- não permite que uma mulher coloque na lápide do irmão a verdade do massacre.
Com uma competente reconstituição de época e uma película de tom cinza que reforça a idéia de sofrimento dos poloneses, dá pra se dizer que Wajda não deixou de ser acurado com a parte técnica da sua produção. A plasticidade do desfecho é digno das melhores produções de Hollywood. E se na primeira hora o filme fica um tanto cálido, os trinta minutos finais tratam de incandescer o espectador.
Octogenário, ganhador de Oscar honorário e de vários Cannes, o cineasta poderia estar em casa cuidando dos cachorros, mas continua na ativa. Ainda nesse mês, Tatarak seu último filme, será lançado na Polônia. Se manter o nível, pode continuar assim até os cem…
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