[Julian Schnabel faz de uma história de superação o filme da sua carreira]
Adepto desde muito cedo ao mundo das artes, o diretor Julian Schnabel, diretor de O Escafandro e a Borboleta, não parece ter tido muita dificuldade de se ambientar à arte do cinema. Pintor de sucesso nos anos 80 largou os pincéis e as tintas para se dedicar a lentes e claqueta na década seguinte.
O talento artístico sucumbido pela tragédia foi a tônica de seus dois primeiros filmes. Em Basquiat levou às telas a vida e a morte do pintor Jean Michel Basquiat, artista promissor tutelado por Andy Warhol que teve a vida encurtada pelo vício na heroína. Depois veio Antes do Anoitecer, filme sobre o poeta Reinaldo Arenas, trabalho que rendeu a Javier Bardem sua primeira indicação ao Oscar.
Finalmente, veio o Escafandro e a Borboleta. No seu terceiro longa-metragem de ficção -realizou também documentários-, o fatalismo do protagonista prodigioso persiste na história real de Jean Dominique Bauby, ex-editor da revista Elle na França que sofre um derrame cerebral e fica com o corpo paralisado, exceto pelo olho esquerdo.
O acidente vascular devasta-o completamente. Graças ao apoio de uma fonoaudióloga aprende a se comunicar - uma piscada é sim, duas é não e são usadas para responder às letras que lhe são soletradas. Enquanto aperfeiçoa a técnica, Jean Do (Mathieu Amalric) alterna momentos de reflexão enquanto restabelece seus vínculos com a família e amigos. Enfraquecido pela doença, dedica seus últimos anos de vida a escrever um livro sobre sua história.
Melhor trabalho em toda a carreira, Julian Schnabel conseguiu o feito de aliar criatividade visual com um trabalho realista e com capacidade de emocionar. A câmera subjetiva utilizada para mostrar o ponto de vista do personagem é um dos pontos fortes da narrativa. Com ela sentimos a aflição, o desespero e até a própria dificuldade do personagem em se conectar com o mundo.
Além da concepção artística, outra virtude do filme é a qualidade técnica da produção. O trabalho de fotografia é primoroso e não podia ser diferente já que por detrás das lentes está o fotógrafo polonês Janusz Kaminski que trabalhou em diversos filmes de Steven Spielberg, entre eles A Lista de Schindler e o Resgate do Soldado Ryan.
Mais do que uma bela lição de vida, O Escafandro e a Borboleta é uma comprovação de que a estética do cinema é inesgotável. Assim como os bons realizadores. É uma pena que Schnabel tenham começado tão tarde na sétima arte. Mas é uma dádiva saber que ainda há tempo para nos brindar com muitos outros filmes.
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