A Aventura começa radiante. A atriz Lea Massari vive a protagonista Anna, uma mulher destemida, temperamental em pé de guerra com o pai e seu noivo Sandro, interpretado por Gabrielle Ferreti. Sua amiga Claudia (Moniva Vitti) é mais recatada e insegura -e como veremos adiante- sentimental. Ambos Cláudia, Anna e Sandro se unem a um grupo de amigos num cruzeiro pelo Mediterrâneo, numa ilha situada na costa da Sicília. Todos são pessoas bonitas, bem-sucedidas e aparentemente alegres, mas desde o início, algo parece estar errado com eles.
Após alardear falsamente o grupo sobre a presença de tubarões e brigar com o namorado, Anna desaparece misteriosamente da ilha. A exceção de Sandro e Cláudia, ninguém parece ligar muito. Tanto é assim que quando a polícia costeira inicia as buscas eles são os últimos a permanecerem. Ao regressarem da ilha, começam a procurá-la em outras cidades.
Três dias após o desaparecimento, Sandro e Cláudia apaixonam-se. Muito menos por atração, do que pela falta do que fazer. E o que parecia se encaminhar para um suspense logo vira uma história de amor. E o que parecia uma história de amor logo se transforma num ensaio sobre as futilidades que se sujeita a alta sociedade para superar seu vazio.
E o vazio é a tônica que move o filme rumo à letargia. Ao contrário de qualquer longa-metragem tradicional onde a tensão cresce a cada nova cena, A Aventura começa conflituoso e vai se esvaziando como uma bola murcha, até se tornar anticlímax. Para desespero do espectador, Antonioni ainda deixa perguntas sem respostas. Todas essas contradições, em vez de suprimir, engrandecem o filme, tornando-o desafiador.
Mas há outros méritos no carteado narrativo do diretor. A câmera que passeia pelas belas paisagens da Itália serve de recurso estético, mas tem também apelo narrativo. Ao passear pelos luxuosos cômodos das mansões, as lentes de Antonioni desnudam o torpor, a solidão e a infidelidade dos personagens, principalmente as do sexo feminino.
As mulheres, aliás, formam o estrutura de sustentação do filme. Embora o movimento feminista não existisse na época, as protagonistas Anna e Claudia exibem uma tendência da mulher moderna que compete com o homem nos relacionamentos. Os homens são infantis e fragilizados e podem tanto entrar numa briga apenas para reviver velhas emoções como desdenhar a infidelidade da esposa, numa espécie de recíproca hedonista.
Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes, em 1960, A Aventura inaugura a rotulada Trilogia da Incomunicabilidade, filmes que dialogam sobre a inércia e as inquietações da sociedade. A Noite e O Eclipse são os filmes posteriores, ambos protagonizados por grandes estrelas do cinema europeu, entre elas Jeanne Moureau, Alain Delon, Marcello Mastronianni. A beleza exótica de Mônica Vitti - e da qual Antonioni tirou uma casquinha - também pode ser vista em A Noite.
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