Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
A BUSCA IMPLACÁVEL PELA APARIÇÃO: FAMA QUE NOS CERCA?
O vencedor do Oscar de melhor filme de 2014 traz consigo inúmeros questionamentos que o diretor Alejandro Iñarritu (que também levou a estatueta de melhor diretor) propôs de forma digna de levar a premiação. Será?
Que o filme Birdman é sem dúvida uma crítica severa ao próprio mundo cinematográfico ninguém tem dúvidas (meio metalingüístico, não?). Enfim, a história de um ator que no passado fez o papel de um herói que todos se lembram e que no futuro não traz qualquer perspectiva de realização profissional para o mesmo nos mostra o quanto o universo do cinema pode ser cruel ao ponto de tornar as pessoas querendo cada vez mais aparecer, mesmo que isso custe sua própria sanidade mental. Vimos que por trás das telas esse making off esconde a mais profunda e antiética realidade vivida pelos interpretantes.
Falando da diégese fílmica, o ritmo com que as cenas são dispostas me parece um pouco lenta no início, mas depois tudo se condensa e é passível de compreensão e menos entediante. E que me perdoe, mas o que Norton estava fazendo no filme? Talvez salvando-o de um previsível tédio interminável. Acho que ele merecia um destaque maior.
Algumas cenas ficaram muito longas o que torna o filme visualmente cansativo, porém eram falas inteligentes, dotadas de sarcasmo e humor-negro, o que, para um público não tão crítico seria uma chatice. Logo no início nos deparamos com frases do protagonista soltas e que não nos remete a absolutamente nada (não é o primeiro filme que vemos isso, é óbvio), o que geralmente é descoberto no desenrolar da estória que pode ou não trazer explicações sobre os acontecimentos que dominam esse contexto. Basicamente em Birdman não vemos isso. O desenrolar dos fatos complica ainda mais a nossa linha de raciocínio. Seria isso proposital? Porque se for, Iñarritu foi bastante feliz! Caso contrário, essas interpretações desses pressupostos misteriosos podem trazer uma fragilidade tremenda aos “desdobradores cinematográficos” (ao qual tento me encaixar).
O protagonista se sente perseguido por uma assombração do passado – e ele gosta - que de alguma forma insiste em dividi-lo entre a realidade e o pretérito. Até ele perceber que tudo acabou, que não há mais reconhecimento, esse “fantasma” vai corroer todo seu juízo. Ao ponto de fazê-lo desfilar de cuecas pela Broadway! Mas será que é somente o protagonista que tem seus momentos infames? Bem, acho que não. A não ser que querer transar de verdade em um ensaio de uma peça teatral seja considerado normal. Normal? Essa é a questão que circunda o filme.
O mistério acaba? Não. O próprio filme nos lança mais e mais questionamentos que, quanto mais tentamos desvendar mais nos atropelamos e engasgamos a coisas que deixamos passar. Para um filme que fala sobre a fama que pode passar tão rápida que quando percebemos já somos invisíveis, Birdman prefere não esclarecer todas as conseqüências que isso traz. E um tiro na própria cara não é sinal de insanidade? Sim. Mas a falta de sanidade mental seria apenas um dos fatores que a “antifama” traria. Todos nós nos perdemos um pouco nos nossos próprios sentimentos (ainda mais quando esses sentimentos são do passado). Nós necessitamos ser vistos, de alguma forma, percebidos. Nem que para isso necessitemos aprender a voar. (voar?) É essa a principal mensagem que a película nos mostra.
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