Na arte, seja qual for, alguns procuram criar entretenimento pura e simples, e outros procuram ir além. Criar algo que se torne referência, que quebre os parâmetros. Alguns apelam para cenas chocantes, e esse aparenta ser o método mais fácil. Mas criar um contexto eficiente para que esse tipo de cena funcione não é tarefa para os medíocres. Apocalypse Now, Nascido em 4 de Julho, Laranja Mecânica e até O Albergue são exemplos de alguns filmes que não focam apenas na apelação a cenas brutais, mas desenvolvem todo um contexto no qual elas se tornam necessárias, não apenas o objetivo em si. Falam por si, dispensando discursos que procuram justificar o que na verdade possui um conteúdo tão profundo quanto um pires.
Em A Sebian Film, um ator pornô aposentado (uma espécie de Kid Bengala dos Sérvios) recebe a proposta de voltar a trabalhar para um diretor misterioso que pretende criar a obra máxima do gênero. Motivado pelo alto cachê oferecido, além da anuência da esposa, aceita a proposta, mesmo sem saber nada a respeito do filme. Quando as filmagens começam, é obrigado a participar de atos que o levarão a loucura.
Em resumo, o filme é ruim. Criado com o propósito de causar a mesma sensação de repugnância que uma capa de um álbum da banda Cannibal Corpse, mas a meu ver falhou miseravelmente afundando em um roteiro no mínimo ridículo. Não é repugnante, sendo no máximo tosco quando não apenas risível. Sua exibição nos cinemas foi proibido em vários países, inclusive no Brasil. De fato possui cenas fortes, mas de máximo mal gosto. A história de A Sebian Film (Um filme Sérvio, numa tradução livre) gira em torno do sexo, e traz um protagonista que é considerado uma lenda no meio pornográfico. Um homem com o “poder” de ficar de pau duro sem precisar “ver ou tocar em nada”. Uma espécie de monge do sexo. Seus poderes são afetados apenas pelo consumo de Whisky, o que ele aparentemente usa para manter o pau sob controle. Cenas de sexo são apresentadas ao menos a cada cinco minutos de filme. O modelo das cenas são como os filmes eróticos exibidos no Cine Privê da bandeirantes. Assim sendo, o que torna o filme tão pesado é a violência que acompanha o sexo. Há uma cena que lembra Apocalypse Now quando os índios começam a matar um boi a facadas. Em outra, vemos um parto no qual imediatamente após o nascimento o bebê é violentado pelo médico, mas essa nem é tão explícita assim (talvez eu tenha visto uma edição com cenas cortadas). O cúmulo do ridículo acontece quando vemos o ator em um acesso de fúria na qual enfia o pênis na cavidade ocular do assistente do diretor. Verdadeiro Trash de péssimo gosto. Na verdade, A Serbian Film possui um roteiro com uma história congruente, mas contada de forma descuidada e desinteressante, se mostrando incapaz de estabelecer uma relação de intimidade com o espectador, o que acaba fazendo com que se torne apenas um amontoado de cenas grotescas. Guardadas as devidas proporções, o filme 8MM com Nicolas Cage possui um contexto muito semelhante, mas com uma ótima história.
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